O presidente Michel Temer almoçou na tarde desta sexta-feira (25) a cúpula do PSDB no Palácio do Alvorada. O encontro aconteceu horas depois que Geddel Vieira Lima ter pedido demissão da Secretaria de Governo. Nessa quinta-feira (24), o jornal Folha de S.Paulo revelou que o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, prestou depoimento à Polícia Federal informando que Temer o teria "enquadrado" a encontrar uma saída para as divergências com Geddel, o que o presidente nega.
Os ministros das Relações Exteriores, José Serra, das Cidades, Bruno Araújo, e da Justiça, Alexandre de Moraes, participaram da reunião, assim como o senador Aécio Neves, presidente nacional da legenda. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardozo, o prefeiro eleito de São Paulo, João Dória e governadores do partido também participam do encontro. É o caso de Geraldo Alckimin (São Paulo), Simão Jatene (Pará) e Pedro Taques (Mato Grosso).
Ao deixar o Encontro Nacional de Prefeitos Eleitos do PSDB para se encontrar com Temer, Aécio Neves disse que o partido continuará apoiando o governo. Segundo ele, se comprovada a possível gravação que Calero teria feito de diálogos no Planalto, essa atitude "merece repúdio".
"Não vejo nenhum ato incorreto por parte do presidente da República, ele fez uma sugestão para que a AGU [Advocacia-Geral da União] pudesse dirimir. As investigações têm que haver em relação a quem quer que seja. Como, acredito, ocorrerão. Nós vamos sustentar o governo Temer porque cabe a ele constitucionalmente o papel de liderar o país nesse governo de transição. Não há alternativa, ou avançamos na condução das reformas ou a crise de responsabilidade dos governos do PT alcançará um número ainda mais avassalador de brasileiros", afirmou.
Ao ser perguntado se o partido vai continuar ao lado do governo após a saída de Geddel Vieira Lima da Secretaria do Governo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardozo afirmou que o PSDB "se sente responsável" pelo Brasil. "O PSDB se sente responsável pelo país, que está num momento que precisa de união", afirmou FHC.
De acordo com Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, Michel Temer "sinalizou" que vai enviar a proposta da reforma da previdência ao Congresso Nacional já na primeira semana de dezembro. De acordo com ele, a intenção do governo é encaminhar o texto após a votação em primeiro turno, no próximo dia 29, da proposta de emenda à Constituição que estabele um teto para os gastos públicos para os próximos 20 anos, a chamada PEC do Teto de Gastos.
Prefeito eleito de São Paulo, o também tucano João Dória foi questionado se o presidente Temer manifestou preocupação com o impacto da demissão de Geddel na articulação política com os parlamentares. "Preocupação não. Determinação de que ele quer fazer as reformas e tem apoio do PSDB para isso", disse.
Geddel pede demissão
O ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima decidiu pedir demissão em meio a crise política no governo de Michel Temer, com possibilidade de abertura de inquérito também contra o presidente e contra o ministro Eliseu Padilha. O ministro encaminhou carta de demissão, após polêmica envolvendo edifício em área tombada pelo Iphan em Salvador.
Já se especulava sobre a pressão que Geddel estava sofrendo para pedir demissão. O ministro tinha declarado ao blog do jornalista Jorge Bastos Moreno, do O Globo, que não tinha "motivo nenhum para pedir demissão".
Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, Temer aceitou o pedido de Geddel, mas um novo nome para o cargo ainda deve levar alguns dias para ser anunciado.
Na carta enviada a Temer por e-mail, Geddel fala sobre o sofrimento de sua família, que este seria o "limite da dor" que poderia suportar, e pede exoneração.
Geddel é o sexto ministro a deixar o governo desde que Michel Temer assumiu o comando do país, em maio. Antes dele, caíram Romero Jucá, do Planejamento, Fabiano Silveira, da Transparência, Fábio Medina Osório, da AGU, Henrique Eduardo Alves, do Turismo, e Marcelo Calero, da Cultura.
Marcelo Calero pediu demissão na última sexta-feira (18), alegando motivos pessoais. Depois, em entrevista à Folha de S.Paulo, afirmou que tinha sido pressionado pelo ministro Geddel Vieira Lima para intervir junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a fim de liberar a construção de um edifício de alto padrão em Salvador.
O empreendimento não foi autorizado pelo Iphan e por outros órgãos por ferir o gabarito da região, que fica em área tombada. Também em entrevista à Folha, Geddel admitiu ter conversado com Calero sobre a obra, mas negou tê-lo pressionado e disse estar preocupado com a criação e a manutenção de empregos.
Confira a íntegra da carta de demissão:
Salvador, 25 de novembro de 2016
Meu fraterno amigo Presidente Michel Temer,
Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair.
Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso.
Fiz minha mais profunda reflexão e fruto dela apresento aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação venho exercendo.
Retornado a Bahia, sigo como ardoroso torcedor do nosso governo, capitaneado por um Presidente sério, ético e afável no trato com todos, rogando que, sob seus contínuos esforços, tenhamos a cada dia um país melhor.
Aos Congressistas, o meu sincero agradecimento pelo apoio e colaboração que deram na aprovação de importantes medidas para o Brasil.
Um forte abraço, meu querido amigo.
GEDDEL VIEIRA LIMA