Reportagem publicada nesta terça-feira (6), pelo Huffington Post, faz uma análise sobre o cenário político mundial tendo como ponto de partida o impeachment de Dilma Rousseff. A reportagem começa lembrando que em 31 de agosto, a então presidente foi cassada pelo Senado após cinco longos dias de julgamento. Os aliados da ex- presidente alegam que ela foi vítima de um "golpe parlamentar". "Uma pessoa inocente, eleita por 54 milhões de votos foi injustamente derrubada. Na América Latina este argumento foi amplamente ecoado trazendo reflexões sobre a democracia e o Estado de Direito, como em Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador", diz a reportagem.
O jornal norte-americano ressalta que apesar de toda legitimidade, a verdade é que estava em jogo muito mais do que o afastamento da presidente. A força motriz por trás do impeachment era a convicção afirmada nas ruas por milhões de brasileiros de que o sistema de poder estabelecido pelo ex-presidente Lula, também do PT, seria o grande culpado em mergulhar o Brasil na crise econômica, política e moral mais profunda desde a restauração da democracia em 1985.
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Em sua defesa pessoal no julgamento do Senado a presidente reiterou sua inocência ( "Eu não roubei, eu não tenho contas bancárias ilegais no estrangeiro ...). Ela resistiu bravamente ao interrogatório e se manteve inflexível. Em um momento comovente, ela invocou sua resistência armada à ditadura militar e as torturas que sofreu. Mesmo que a jovem guerrilheira do passado não fosse tão democrática quanto ela afirma, o Huffington Post fala que respeita seu espírito de luta. Ela agora provou ser uma guerreira.
A reportagem, no entanto, declara que a sensação é de que o Brasil virou uma triste página de sua história e acrescenta que preferia que Dilma tivesse provado sua capacidade política e administrativa e completasse seu mandato. Infelizmente, o crime de responsabilidade foi agravado por sua falta de capacidade em governar.
"O que nos resta?", questiona o Huffington Post em seu texto. "Certamente muitos brasileiros estão desiludidos, passando por uma recessão acentuada, assolada pelo desemprego em massa. A sociedade está dilacerada por uma onda de escândalos de corrupção sem precedentes e um sentimento generalizado de desencantamento."
O texto prossegue: "Nós estamos realmente presenciando no Brasil - como nas democracias tradicionais do Ocidente - o impacto de grandes transformações econômicas e tecnológicas", avalia o Huffington Post. "Com os Estados enfraquecidos pela globalização, as sociedades estão cada vez mais fragmentadas estruturalmente por uma nova divisão do trabalho e expostos às tensões e desequilíbrios da diversidade cultural. Tudo isso leva à ansiedade e medo sobre o futuro, com a incerteza sobre como preservar a coesão social, garantir empregos e reduzir a desigualdade."
"Nas democracias em crise, as diferenças de classe se misturam com outras formas de identidade social", analisa o Huffington Post. Os partidos políticos estabelecidos estão sendo obrigados a deixar seus postos. Narrativas que buscam entender as queixas das massas sem seus representantes no poder para preencher o vazio deixado pelo desaparecimento da democracia representativa. "Vemos isso também com Donald Trump, nos EUA e o aumento da xenofobia na Europa."
O Huffington Post alerta que esta é uma situação repleta de riscos. Nas Américas e Europa a democracia representativa está em crise. No centro desta crise está o enorme abismo entre as aspirações das pessoas e a capacidade das instituições políticas em corresponder às demandas da sociedade. É uma das ironias de nossa era que está com déficit de confiança nas instituições políticas.
Para colocar em poucas palavras, conclui o Huffington Post, o "nosso desafio é fazer a ponte entre o povo e o interesse público, buscando fazer do sistema político uma instituição que atenda ás demandas da sociedade."
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