Começou neste sábado (16), em Brasília, um dos períodos preferidos por aqueles que consideram o livro um bom companheiro para todas as horas. A 32ª Feira do Livro de Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, foi aberta nesta tarde com muitos estandes e uma grande variedade de livros, além de uma série de eventos paralelos.
“A gente vai encontrar uma programação rica para todos os gostos. Para as crianças, uma programação forte, com muitas oficinas e muita contação de histórias. Teremos o Encontro Nacional de Escritores Jovens e um Encontro de Países de Língua Portuguesa”, informou Marcos Linhares, um dos organizadores da feira. Segundo Linhares, a expectativa é receber, diariamente, mais de 30 mil pessoas, ao longo dos nove dias do evento.
Em sua 32ª edição, a feira faz uma homenagem ao poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare. Em memória aos 400 anos de morte do escritor inglês, a feira promoverá uma palestra sobre suas obras. O embaixador do Reino Unido, Alex Ellis, falará sobre William Shakespeare e seu legado.
Uma das novidades neste ano é 1º Encontro Nacional de Blogueiros Literários, que ocorre neste fim de semana. A intenção é discutir a internet como forma de divulgação da literatura e como alternativa às vias tradicionais de publicação editorial, mais caras. "Descobrimos que principalmente os jovens têm a própria estratégia literária, e uma delas é divulgar via blogs, via Youtube. Eles têm milhares de seguidores", disse Cleide Soares, uma das coordenadoras da Feira do Livro. Cleide integra o Colegiado Setorial do Livro, Leitura e Bibliotecas do Distrito Federal e o Grito do Livro: Viva a Leitura!
A feira também traz a Brasília vários nomes de peso, cuja obra está presente mas estantes de milhares de livrarias e residências Brasil afora. Leonardo Boff, Antônio Carlos Secchin, André Vianco, FML Pepper, Cristiane Sobral, Maurício Gomyde serão alguns dos escritores presentes.
Desafios dos novos escritores
Mas não só de nomes consagrados vive um evento literário desse porte. Logo na entrada da feira, Luiz Cláudio Del Rio expõe sua primeira obra, A Lei dos Puros: O Poder da Esperança. Visitantes param, olham a capa, alguns compram e, quando o fazem, levam uma dedicatória na primeira página.
Aos 67 anos, L.C. Del Rio, pseudônimo do escritor, publica o primeiro livro. “Para mim é umfeedback [retorno, resposta] da receptividade. Peço a todos que compram o livro que mandem uma avaliação a respeito. Escrever, para mim, não é uma necessidade, é uma coisa de que eu gosto”. Apesar de ser um profissional estável em outra atividade, escrever as cerca de 500 páginas sobre as aventuras de um grupo de jovens em um futuro distópico está longe de ser considerada um hobby, afirmou.
Além de empregar tempo e dedicação para construir a história – o início de uma trilogia –, Luiz Cláudio teve que seguir o caminho de muitos escritores sem patrocínio ou apoio de grandes editoras. “Fiz um investimento de R$ 12 mil para imprimir mil exemplares em São Paulo. Em Brasília, cheguei a orçar valores de R$ 25 cada exemplar, o que é inviável.”
Na feira, a obra de Luiz Cláudio sai por R$ 29,90, mas, depois, chegará às livrarias, para uma venda consignada. Após a venda, o valor será dividido entre escritor e livraria. “Se você considerar logística, a margem de lucro do autor fica quase nula. É quase impossível, se você não tiver parceria ou patrocínio de uma editora que se interesse.”
Iniciativas culturais
Os estandes não são as únicas formas de vender cultura na feira. Nas primeiras horas de feira, Thiago Barros circulou com uma mochila nas costas e uma revista na mão. Abordou o repórter, entregando-lhe a revista. Contou a história da revista Traços, que mistura projeto social e defesa da cultura de Brasília e de seus espaços tradicionais. Entrevistas com artistas, gestores ligados à cultura, contos e matérias recheiam a publicação.
Com conteúdo e material de qualidade, a revista sai das mãos de Thiago por R$ 5. Destes, R$ 4 ficam para ele, um ex-morador de rua. “Deparei com esse projeto, que tinha proposta de dar renda a pessoas em situação de rua. A venda da revista me proporcionou novamente um lar, o prazer de comprar meu próprio alimento e ter a dignidade de volta”.Além de Thiago, mais 50 pessoas estão fazendo esse trabalho, vendendo revistas pela cidade, disseminando cultura em troca do próprio sustento. Sem estande ou balcão na feira, ele vendeu rapidamente todas as revistas que levara. “Toma essa de presente, irmão!”, disse ao repórter e deu-lhe um exemplar, antes de sair, satisfeito.