A presidente Dilma Rousseff anunciou na tarde desta quarta-feira (16), em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, a ida de Lula para o comando da Casa Civil, no lugar do ministro Jaques Wagner, e negou que o ex-presidente terá "super poderes", como questionaram alguns jornalistas.
"Minha relação com o presidente Lula não é de poderes ou superpoderes, é de quem constrói junto um projeto para o país. Lula terá os poderes necessários para ajudar o Brasil. Eu já disse que ele é um hábil articulador político e me deixa muito confortável. Temos seis anos de trabalho cotidiano durante a segunda fase do governo dele", afirmou a presidente, que foi titular do mesmo ministério no governo Lula.
Dilma disse, ainda, que a imprensa precisa se decidir sobre as inúmeras hipóteses que vem levantando a respeito da ida de Lula para o governo. "Tem seis anos que vocês tentam me separar do presidente Lula. Vocês têm que acertar com que capital ele vem. Uma parte (da imprensa) diz que ele vem como investigado, outra parte diz que ele tem capital político", criticou.
A presidente também rebateu a ação de partidos da oposição de tentarem embargar a posse de Lula, sob alegação de que o ex-presidente estaria se esquivando do julgamento do juiz federal Sergio Moro. Dilma ressaltou que a oposição lança desconfianças sobre a competência do Supremo Tribunal Federal (STF), onde Lula poderá ser julgado.
"Por trás dessas afirmações há uma suspeita em relação ao Supremo. É isso o que a oposição quer colocar? O STF não é uma justiça que pode punir, mandar investigar e absolver? É a Suprema Corte do país! Prerrogativa de foro não é impedir investigação. A troco de que eu vou achar que a investigação do juiz Sergio Moro é melhor que a do Supremo? Isso é uma inversão", disse ela.
Segundo Dilma, a tentativa de impedir que o ex-presidente vá para a Casa Civil é uma "sombrinha, uma proteção" da oposição para não demonstrar o desconforto com o fortalecimento que Lula dará ao Palácio do Planalto. "Vamos falar a verdade: a vinda do Lula fortalece o meu governo e tem gente que não quer que o meu governo seja fortalecido. Ele vem, ele vai ajudar na estabilidade da economia, na retomada do crescimento", afirmou a presidente.
Ela negou que haverá venda de parte das reservas internacionais, que hoje totalizam US$ 372 bilhões, para investimentos e pagamento da dívida pública, como alguns veículos chegaram a divulgar. "Nem Nelson Barbosa (Fazenda) nem Alexandre Tombini (Banco Central) estão com a possibilidade de sair do governo. Pelo contrário, estão mais dentro do que nunca. As especulações contra o uso das reservas são só especulações, que só beneficiam quem lucra com ela".
>>Posse do ex-presidente Lula na Casa Civil será na próxima terça-feira
Dilma: "Mercadante deu explicações satisfatórias"
A presidente voltou a afirmar que não tem como não manter sua confiança no ministro da Educação, Aloizio Mercadante, apontado na delação premiada do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) como enviado da chefe do Executivo para negociar um suposto acordo a fim de que não houvesse o depoimento do parlamentar à Justiça.
"O ministro Mercadante deu explicações satisfatórias, mas o que chamou minha atenção é que o que constava na revista Veja não colocava todas as afirmações do ministro. Acredito que é muito importante que (a imprensa) tenha o compromisso com a verdade e escute toda a gravação. Lá, ele diz que não tinha nada a ver com a delação, que delatava se quisesse. É muito importante que se divulgue a íntegra (do áudio)", disse Dilma.