Em um ato de desespero, na tentativa de salvar a vida da filha, um morador de Bauru, no interior de São Paulo, se acorrentou a um poste em frente ao fórum da cidade na noite desta quarta-feira. O protesto seguiu pela madrugada e durou sete horas.
Donzílio Quaggio Merli, 52 anos, resolveu protestar logo depois de tomar conhecimento sobre uma decisão judicial que negou uma cirurgia de alto custo à filha dele, Ana Carolina Quaggio Merli, de 28 anos. A jovem precisa do procedimento para corrigir um problema na coluna e sofre por conta de uma fibriomialgia. Em 2008, Ana sofreu uma queda, fraturou a coluna e sofre com dores crônicas e já passou por três cirurgias desde então. Ela tem duas chapas de platina e seis parafusos na coluna.
Há dois meses a família ingressou com um processo judicial pedindo que o governo do Estado custeie a compra de um eletrodo, uma espécie de chip, de R$ 110 mil, que precisa ser implantado na coluna da jovem, para estimular os movimentos das pernas e eliminar a dor. O implante definitivo de um microchip funciona como estimulador medular e alivia as dores consideradas agudas e crônicas.
“Sinto uma dor muito forte na coluna e ela desce para a perna. Desce pra perna e eu não tenho firmeza na perna, às vezes ela falha. A perna não responde ao comando. É triste ver meu pai ter que chegar a esse ponto, me sinto envergonhada. Mas, por outro lado, sei que foi um gesto de amor que poucos pais fariam”, diz Ana.
Segundo os médicos, a única alternativa para que Ana se livre das fortes dores seria a cirurgia cujo valor total é de R$ 400 mil. Sem recursos para o procedimento, a família começou uma longa batalha para conseguir viabilizar o processo cirúrgico. Depois de percorrer diversos hospitais, conseguiu que um médico do Hospital das Clínicas de Botucatu, em São Paulo, se prontificasse a realizar o procedimento, porém seria necessária a compra do chip pelo Estado. Sem ele não é possível realizar a operação. Nesta quarta-feira, quando Donzílio soube que a Justiça havia negado o pagamento do tratamento ele se desesperou.
“Fiquei desesperado. Não sabia o que fazer. Minha filha toma 17 comprimidos por dia. Já está com o fígado inchado. Mas quando passa o efeito ela sente muita dor, chega a urrar. Os remédios são paliativos e são tantos que ela chega a ter alucinações, vê coisas. E os remédios já estão prejudicando o fígado dela. Ela corre o risco de ter uma cirrose hepática”, explica o pai.
Segundo ele, a primeira decisão judicial foi favorável à família e determinou que o Estado providenciasse o equipamento. O Estado tinha 30 dias para cumprir a decisão, mas a juíza voltou atrás. “Consegui declarações de vários médicos, de um neurocirurgião, de um ortopedista e de uma fisiatra. Todos dizem que a única solução é a cirurgia, mas a juíza nem leu”, disse.
A Polícia Militar foi acionada e os policiais tentaram convencer o homem a se desacorrentar, porém sem sucesso. Como o ato era pacífico, os policiais deixaram o local cerca de uma hora e meia depois. Donzílio só deixou o Fórum depois de ser convencido por um advogado que alegou que se algo acontecesse com ele não teria ninguém para lutar pela saúde da filha.
O defensor público que representa a família vai recorrer da decisão judicial, mas um novo resultado pode demorar até dois anos. “Minha filha não vai suportar tanto tempo assim. Ela sofre demais”, justifica Donzílio.Ele, que trabalhou durante 28 anos em uma multinacional, onde chegou a exercer o cargo de executivo, está desempregado há alguns anos. A única renda atual da família vem de um imóvel locado. Os remédios que Ana precisa foram obtidos por meio de um mandado judicial, mas segundo o pai, a entrega sempre atrasa e a família precisa comprá-los.
Ajuda
Enquanto o advogado tenta reverter a situação na Justiça, a família tenta sensibilizar a população para o caso e busca doações para tentar comprar o microchip. ”Estamos tentando a ajuda da pessoas, já que não dá contar com o Estado, temos uma conta para doações no Banco Itaú, peço pela minha filha, para não perde-la”, diz o pai. Doações podem ser feitas no Banco Itaú: Agência 1657 Conta Corrente 09883-4, em nome de Donzílio Quaggio Merli.