Pela segunda vez, familiares de presos foram impedidos pelos agentes penitenciários do acesso do "jumbo", uma sacola contendo alimentos, cigarros e produtos de higiene, aos detentos do Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia. Os agentes estão em greve desde o dia 10 de março.
"Não é justo, eles fazem greve e quem paga é nossa gente", reclama a dona de casa Camila Cristina Menezes de Sena, 25 anos, cujo pai preso está preso há 3 meses no Centro de Detenção Provisória (CDP) que fica dentro do complexo penitenciário. O local concentra cerca de 8 mil presos em dois CDPs, duas penitenciárias, uma unidade de semi-aberto e outra de progressão penitenciária.
Os grevistas tomaram a principal entrada do presídio e autorizaram somente o acesso de ambulâncias, o transporte de presos doentes que deixaram os hospitais e caminhões com alimentos. Nem os advogados puderam entrar para falar com seus clientes.
A paralisação dos agentes penitenciários completou nove dias nesta quarta-feira. Os familiares que fizeram visitas no último final de semana também encontraram restrições. Quarta-feira é um dia tradicional da entrada do "jumbo" no presídio.
O advogado Rodrigo Maricato estava descontente por ter os documentos parados, já que há vários dias não consegue contato com os clientes dentro do presídio. "Sou a favor do movimento dos agentes. mas impedir a entrada de um representante legal já é demais. Tenho cliente que ganhou a transferência para o semi-aberto. Ganhou, mas não levou", comentou.
Risco de rebelião
"Se o jumbo não entrar pode ter rebelião, a cadeia vai virar", afirma uma mulher, que não quis revelar seu nome. "Lá dentro a comida é horrível, já encontraram até caco de vidro, perna de barata, pelo de rato nas marmitas", reclama Marinalva dos Santos, mãe de um rapaz de 23 anos que está preso há dois anos. "Ele foi um sem-vergonha, para não dizer coisa pior", diz a auxiliar de limpeza.
"Ele é trabalhador, mas o vício com as drogas não tem 'quimioterapia' que cure", disse a mãe. "Mas não precisa maltratar os meninos, não deixar entrar doce, cigarro, pasta de dente. Isso já é judiação. E os culpados mesmo, quer saber, escreve aí, são os políticos do mensalão e do governo que nem aí para os presos trancados lá dentro ao Deus dará", falou a mulher, enquanto retirava da bolsa uma bandeira do Brasil.