Os atos de vandalismo durante as manifestações no Brasil ganham destaque na edição desta sexta-feira (14/2) no jornal The Wall Street Journal. O veículo norte-americano contextualiza os protestos no país destacando a participação de milhões de pessoas nos primeiros atos em junho, mas o movimento se transformou numa força menor, dando lugar agora aos radicais, que dividiram o país. Os debates para se impor uma abordagem mais dura contra os manifestantes acontecem meses antes do Brasil receber a Copa do Mundo da Fifa.
O jornal afirma que a questão sobressaiu nos últimos dias, após a morte do cinegrafista da Tv Bandeirantes Santiago Andrade e a prisão de dois suspeitos. A matéria informa que cerca de mil manifestantes tomaram as ruas do Rio contra as tarifas de ônibus, que foram ajustadas na quinta-feira ((6/2), bloqueando o tráfego em uma das principais avenidas da cidade, que teve a segurança reforçada pela polícia.
O texto enfoca que o caos levou as autoridades de segurança a pressionar o Congresso a aprovar novas leis referentes as manifestações de rua, como exigir que os organizadores tenham a permissão das autoridades para realização dos atos e a adesão de penas de prisão mais duras para os infratores. José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio, viajou para Brasília esta semana em um esforço maior para incentivar os legisladores a aprovar uma lei que proíbe os manifestantes de usar máscaras e objetos perigosos em manifestações.
Segundo o Wall Street, a questão é um enigma para muitos brasileiros, porque a população está revoltada com as temáticas abordadas pelos manifestantes, como a corrupção, serviços públicos precários, especialmente em hospitais e escolas, e os gastos do governo com a Copa do Mundo. "Mas muitos têm receio de algumas das soluções mais duras propostas pelos legisladores, sejam parecidas com as medidas tomadas pela ditadura militar no Brasil, entre os anos de 1964 a 1985. E muitos também estão cada vez mais desconfiados dos manifestantes", destaca o texto.
O veículo destacou um depoimento de Amerigo Incalcaterra, comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos na América do Sul. Amerigo disse na terça-feira (11/2) que a violência não pode ser utilizada como forma de reivindicar os direitos, se referindo à morte do cinegrafista Santiago Andrade. A matéria esclarece que as últimas manifestações no Rio vieram em resposta a o aumento de 9% na tarifa dos ônibus na cidade, tema que também atraiu milhares de pessoas para as ruas em meados de 2013. "Mas, enquanto o aumento das tarifas de ônibus no ano passado foi revogado em meio à pressão da opinião pública, as autoridades locais dizem que não têm intenção de retroceder nesse momento", destaca o texto do Wall Street.
Na visão do jornal internacional, muitos dos manifestantes que participaram dos atos mais recentes, já estão resignados aos confrontos com a polícia. Na avaliação dos especialista entrevistados pelo Wall Street, as imagens veiculadas nos veículos de comunicação das brutalidades praticadas pela polícia contra os manifestantes pacíficos em meados de 2013, alimentou a indignação pública que permitiu que as manifestações das tarifas expandissem para outros temas. Quando a cobertura da televisão mudou seu foco para os manifestantes mascarados jogando coquetéis molotov, destruindo objetos nas ruas e queimando propriedades, a participação legítima começou a minguar. "Como isso, aconteceu a presença do chamado black bloc ativista, caracterizado pelo uso de máscaras e roupas pretas, e a sua tendência de enfrentar a polícia e destruir a propriedade, cresceu em proporção aos protestos globais", descreve a reportagem.
No cenário onde Santiago Andrade foi ferido fatalmente ocorreu durante a hora mais movimentada na cidade, em uma estação de trem onde circula 130 mil trabalhadores, em sua maioria brasileiros que fazem esse trajeto diariamente, entre o Centro e os subúrbios mais pobres do Rio de Janeiro. A polícia mobilizou granadas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra os manifestantes que tentavam destruir catracas no interior da estação, criando pânico entre centenas de pessoas. A classe trabalhadora brasileira, constitui um grupo vital para a presidente Dilma Rousseff. Ela é amplamente esperada para concorrer à reeleição este ano e está muito à frente de seus principais rivais nas urnas.