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Ex-dirigente da Siemens diz que matriz operou 'conta secreta'

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Uma conta no paraíso fiscal de Luxemburgo foi operacionalizada pela matriz da Siemens na Alemanha, multinacional que denunciou recentemente a formação de cartel no sistema metroferroviário do Brasil, incluindo a própria companhia alemã. A informação foi dada pelo engenheiro Adilson Antônio Primo, que por dez anos presidiu a empresa no Brasil, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. 

Segundo ele, a conta, que acumulou 6 milhões de euros, foi aberta em 2003 por um diretor financeiro da companhia, com anuência da cúpula da matriz alemã. “Naquela ocasião a Siemens tinha certas contas, que não existem mais. Até 2007 existiam, a Siemens tinha as chamadas contas de compensação, e isso era da alçada e da administração do diretor financeiro, e a operacionalização disso era da Alemanha", disse o ex-dirigente da multinacional, que recentemente pediu exoneração da Secretaria de Coordenação-Geral e Gestão de Itajubá (MG) para evitar constrangimentos ao amigo prefeito diante da crise que colocou a Siemens no centro do grande escândalo dos cartéis para fraudes em licitações. 

"Todas as vezes que fui perguntado se eu conhecia aquela conta disse que não conhecia. Como presidente você assina 500 documentos por dia. Num determinado dia, muitos anos depois, houve uma mudança. Essa conta que tinha sido aberta e operacionalizada pela Alemanha, acabei assinando um documento. Não assinei um documento, eu rubriquei simplesmente, de mudança de titularidade. Foi aí que eles disseram que eu sabia da conta e deveria ter avisado. Mas a conta era operada por eles", completou. 

Primo não foi citado no acordo de leniência que executivos da companhia firmaram com o Cade. Hoje, move um processo na Justiça do Trabalho contra a empresa. Segundo ele, a Siemens alegou desídia e insubordinação para a sua demissão. "Não aceitei ser acusado de desídia e insubordinação pelo histórico que tive na empresa. Em momento algum atribuem a mim improbidade, mas fiquei chocado porque desídia é desleixo. Essa é a razão pela qual eu me vi quase na obrigação, até como resposta aos meus pares, meus amigos, minha família, de entrar com processo", explicou, salientando que não sabe a que episódio a multinacional se referiu ao acusá-lo de insubordinação e nega que tenha relação com a conta 'secreta'. 

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"Quando eu rubriquei a mudança de titularidade já haviam sido feitas, pela própria Alemanha, movimentações nessa conta, aberta em 2003 pelo diretor financeiro da época, que era um alemão, sem o meu conhecimento e sem a minha assinatura. Eles faziam toda essa administração. Dois anos depois houve essa mudança de titularidade, acabei rubricando, tinha lá o meu nome. Eu não tinha nem a procuração, não movimentei conta nenhuma e nem sei os movimentos que foram realizados, com que objetivos foram feitos", garantiu, citando que promoveu também auditorias na empresa após denúncias de irregularidades, mas que nada foi encontrado.