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Familiares de vítimas se aproximam após tragédia da Boate Kiss

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Kelli Anne Santos Azzolin, 24 anos, de São Luiz Gonzaga, Francieli Araujo Vieira, 22 anos, de Itaqui, Rafael Dias Ferreira, 21 anos, de Santa Maria (as três cidades no RS), e Bruna Caroline Occai, 22 anos, de Belmonte (SC), vieram de lugares diferentes, mas descobriram a amizade entre eles no mesmo local em que estudavam. Eles faziam parte de uma turma que tinha atividades no mesmo laboratório da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e saía reunida. Até tiraram a última foto reunidos na Boate Kiss na madrugada do dia 27 de janeiro, cerca de 20 minutos antes de o incêndio começar e causar a morte de 242 pessoas. A imagem foi descoberta por familiares cerca de dois meses após a tragédia, quando a máquina fotográfica de Bruna foi devolvida pela Polícia Civil a familiares dela.

Kelli, Francieli, Rafael e Bruna partiram juntos na tragédia. Todos eram muito apegados. Porém, suas famílias não tinham qualquer contato entre si. Com a morte dos jovens, aqueles que perderam seus entes queridos se aproximaram e passaram a dividir a saudade e a tristeza, criando um forte laço de amizade que não existia antes da tragédia. Neste sábado, as quatro famílias se reuniram em uma vigília na praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, com direito a um carreteiro de charque preparado no local.

Flavio Azzolin, pai de Kelli, viajou de São Luiz Gonzaga para encontrar os familiares dos amigos da filha. “Assim a gente acaba se aproximando mais, já que nossos filhos eram tão ligados”, comenta Flavio. Já os parentes de Bruna percorreram mais de 400 quilômetros para prestar uma homenagem à jovem que morreu na tragédia. “A gente já pensou em ir a Santa Maria outras vezes, mas ficava pensando que era longe, se ia servir para alguma coisa (...) Mas acabamos vindo para a vigília, por homenagem à única irmã que eu tinha”, diz Carina Occai, que enfrentou seis horas de viagem, com outros 15 familiares e amigos de Kelli, para chegar à cidade da tragédia.

Para aproximar mais ainda as famílias, foi feito um carreteiro em plena praça, com direito a charque trazido de Itaqui pela mãe de Francieli, Lisette Araújo Vieira. Diretora de uma escola na cidade natal da jovem que morreu na tragédia, ela contou com a ajuda de colegas no preparo da refeição. Fogareiro e panelas também vieram de Itaqui para garantir. O grupo todo lotou dois micro-ônibus. "Minha filha, às vezes, quando ia para Itaqui, queria me falar sobre os colegas, contar mais sobre eles. Mas eu não queria nem ouvir, era muito egoísta, queria ela toda pra mim. Isso serve de lição para a gente, para conhecermos mais a vida dos filhos, seus amigos (...) Que pena que tenha que ter acontecido isso para nos aproximarmos. Estou sempre em contato por telefone com as outras famílias."

Via de regra, a vigília dos familiares das vítimas da tragédia ocorre em uma pequena tenda, perto do Viaduto Evandro Behr. Neste sábado, como havia cerca de 70 pessoas participando e a chuva não deu trégua, todos se abrigaram sob um lonão colocada para eventos da prefeitura. Sobre o palco que fica no local, havia banners com as fotos dos jovens que morreram na tragédia. Um deles, inclusive, trazia a última imagem dos amigos reunidos. 

Atividades vão marcar os sete meses da tragédia

Na terça-feira, várias atividades estão marcadas em Santa Maria para a data que marca os sete meses da tragédia. A programação se inicia às 10h com a Caminhada da Saúde, com estudantes. Todos vão se concentrar em frente à Kiss, aguardando a chegada de uma cavalgada que partiu de São Gabriel (RS) na sexta-feira e terá percorrido mais de 140 quilômetros para homenagear as vítimas. A chegada dos cavaleiros está marcada para 11h.

Às 13h, haverá uma missa crioula no Altar-Monumento do Parque da Medianeira, organizada pelos tradicionalistas. O ato ecumênico oficial, organizado pela Associação dos Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) está marcado para as 19h, na Igreja Episcopal Anglicana, na avenida Rio Branco, no Centro. Antes da celebração, será feito o já tradicional “minuto de barulho”, com palmas para as vítimas.