O estudante Rafael Dias Ferreira, 21 anos, que morreu no incêndio que atingiu a Boate Kiss em 27 de janeiro deste ano, foi homenageado nesta sexta-feira por familiares, amigos e colegas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Estudante de Biologia na UFSM, Fael, como era chamado, foi cremado e teve suas cinzas depositadas junto a mudas de árvores plantadas no Jardim Botânico da instituição.
Nascido em Belém (PA), ele morava em Santa Maria havia cinco anos com a mãe, Márcia Dias, e o padrasto, Pedro Sousa. Com autorização da UFSM, as cinzas de Fael foram plantadas junto a um ipê-branco e a uma cerejeira. Nos próximos dias, as árvores ganharão a companhia de um banco, para que o local seja um recanto de tranquilidade e devoção. "Meu filho amava a natureza", disse a mãe de Rafael, logo depois de depositar as cinzas junto a uma das árvores.
O cerimonial da homenagem foi comandado pelo presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, e começou com a mensagem de representantes das religiões católica, batista, espírita e budista. Logo depois, os presentes não conseguiram segurar as lágrimas, quando foi exibido um vídeo com fotos de Rafael nas mais diferentes épocas de uma vida que foi abreviada pela tragédia, além de mensagens. Em um dos vídeos, o próprio estudante cantava uma música, o que trouxe uma emoção extra à cerimônia.
Reinaldo Ferreira, pai de Rafael, deu um depoimento emocionado, lembrando de alguns momentos singelos que passara com o filho, como quando lhe deu um livro, quando o levou a Brasília, onde ele mora, ou quando o estudante tocou teclado na igreja. São momentos que vão ficar para alguém que foi surpreendido pela tragédia. "Para isso, a gente nunca está preparado", comentou Reinaldo.
Citando o que o filho tinha escrito em um diário, sobre "ser uma pessoa melhor em 2013", o pai destacou três coisas que Rafael queria implantar em seu coração e destacou que elas deveriam se estender a todas as pessoas: paz, amor e perdão. No final, em alusão à Boate Kiss, Reinaldo pediu aos pais atenção aos locais aonde os filhos vão. "Que nós possamos aprender a ser mais 'cricris' com as coisas que nossos filhos fazem", sugeriu, citando um senhor que falou com ele durante o velório de Rafael, no Centro Desportivo Municipal, que lhe contou que havia impedido o filho de ir à Kiss na noite da tragédia depois que passou na casa noturna na tarde anterior e achou o local inseguro.
Colegas do curso de Biologia também deram depoimentos emocionados sobre como era o convívio com Rafael. "Todo mundo que ouviu as palavras do Rafael as levou para sempre. Ele era diferente de todos nós, era uma pessoa especial", disse uma estudante. Outra colega contou da dedicação do estudante aos dar aulas no Práxis, pré-vestibular gratuito da UFSM. Ele revelou um desafio especial encarado por Rafael: dar aula a um estudante cego. "Era lindo ver a dedicação dele. Estava sempre pensando em coisas para ensinar melhor", declarou a jovem.
Antes do plantio das árvores, integrantes da AVTSM pediram que todos deem apoio na luta por justiça, especialmente agora que os réus do processo da tragédia foram soltos. Para plantar a cerejeira e o ipê-branco, o pai e o padrasto se encarregaram das pazadas de terra necessárias, que assentaram as árvores e cobriram as cinzas que foram jogadas ao solo pelo pai e pela mãe de Rafael.