Rio de Janeiro - Nem aliada do governo da presidente Dilma Rousseff, nem da oposição. Nem de esquerda nem de direita, mas "de frente": a vontade de obter o voto de protesto está no centro da estratégia da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que acaba de lançar seu novo partido, a Rede Sustentabilidade no contexto da eleição presidencial de 2014. Ela espera repetir o desempenho de 2010, quando foi imposta como uma terceira via para atrair 20 milhões de votos, começa o artigo do Le Monde, assinado por Lamia Oualalou.
Desde então, Marina Silva destacou sua biografia impecável em um sistema político marcado pelo compromisso. Nascida em uma pequena comunidade de seringueiros no estado amazônico do Acre, analfabeta até a idade de 16 anos, ela se destaca como uma figura da defesa da Amazônia, ao lado de seu mentor, Chico Mendes, que foi assassinado em 1988. Membro do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva desde a sua criação, é também a primeira a ser escolhida para participar de seu governo, em 2003, quando o ex-metalúrgico, finalmente, ganhou a presidência.
Do “pragmatismo” ao “sonho"
Ministra do Meio Ambiente, lutou por cinco anos contra os poderosos setores de agronegócios antes de jogar a toalha e se juntar ao Partido Verde, cuja liderança era ilustrada mais por oportunismo do que por preocupações ecológicas. Poucos meses depois, Marina Silva bateu a porta do partido e concluiu: "Este não é o momento para o pragmatismo, este é o momento de sonhos."
Estes "sonhos" guiaram a redação dos estatutos da Rede. A futura eleita não tem direito a apenas uma reeleição e se recusa a doações corporativas "sujas", a venda de álcool, cigarros, armas ou fertilizantes. "Esta é uma grande jogada de marketing, mas a pureza não vai acabar", brinca Fernando Rodrigues, editor do jornal Folha de São Paulo. Ele lembrou que em 2010, Marina Silva recebeu 420.000 euros da construtora Andrade Gutierrez, responsável pela construção de uma usina nuclear, e 200.000 euros da fabricante de papel Suzano Papel, acusada de poluir os rios.
"Em 2010, Marina representava o sonho, a ética que o PT antes encarnava, daí o seu sucesso inesperado. Mas que dificilmente se repetirá", disse Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. "Ela perdeu dois anos, ela poderia aliar-se ao governo de Dilma sobre o modelo dos Verdes na Alemanha e imediatamente criar um movimento político, mas ela permaneceu imóvel", diz ele.
Para que o seu partido realmente exista, Marina Silva deve convencer os membros do Congresso a participar. Mas se o seu discurso ético e ecologista atrai as elites urbanas, eles também estão com medo de posturas francamente conservadores em questões sociais (contra o aborto, o uso de células-tronco, em particular), e sua proximidade com as igrejas evangélicas.