Após o acidente com helicóptero em Londres, que se chocou contra uma grua, na quarta-feira (16), a segurança no uso desse tipo de equipamento na cidade de São Paulo, que concentra 672 aeronaves registradas, entra em xeque. Pilotos pormenorizam os riscos, mas ao mesmo tempo, reclamam que o risco real está relacionado com o tráfego de aviões comerciais nos arredores dos aeroportos de Congonha e Guarulhos, já que isso obriga essas aeronaves a voarem em uma altura mais baixa que determinado pelas as regras internacionais de segurança de voo.
"Em São Paulo existe uma situação muito particular. Temos a segunda maior frota do mundo, por isso existem algumas aberturas de regulamentação. Existe um problema muito sério, já que as áreas onde essas aeronaves voam são nas finais (ponto de aproximação de aviões) de Congonhas e de Guarulhos, então eles chegam a interferir com o tráfego aéreo das operações regulares. Por causa disso, existe um acordo que é do Serviço Regional de Proteção ao Voo (SRPV) de São Paulo, que os helicópteros devem voar um pouco mais baixo para ter espaçamento com as aeronaves que vão fazer a final (aproximação do local de pouso)", diz um piloto formado em segurança de voo que preferiu não se identificar. Segundo ele, em alguns casos a proximidade com os aviões chega a "assustar" na região de Congonhas.
Dados da Agencia Nacional de Aviação (Anac) apontam que no ano passado ocorreram nove acidentes com helicóptero em São Paulo. As investigações são feitas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, mas não existem registros de acidentes semelhantes ao ocorrido em Londres.
A localização desses "obstáculos" é feita de forma visual pelos pilotos, que marcam a localização no GPS e notificam a Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe), que por sua vez, repassa a informação para o SRPV, que emite um comunicado para os pilotos. De forma menos burocrática, os pilotos acabam informando esses pontos por meio do "rádio peão", como é apelidado o rádio que os comandantes usam para se comunicar.
Estádio do Corinthians
Um caso recente foi a notificação de um guindaste instalado na construção do estádio do Corinthians, em Itaquera, que gerou alertas da Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe). "É normal você ter uma grua em cima de qualquer edifício para levantamento de materiais. De acordo com as regras de voo são as seguintes: você tem que voar a 500 pés (cerca de 152 metros) acima de qualquer obstáculo. O gabarito é o helicóptero é que tem que cumprir, não a grua", afirma.
O uso de gruas em construções só pode ser feito após a emissão de um alvará da prefeitura, que tem validade de seis meses, caso o equipamento invada o terreno vizinho. Em relação a altura, a informação deve ser repassada ao SRPV. Segundo o Executivo municipal, desde janeiro de 2011, foram emitidos 105 alvarás e a fiscalização é feita mediante denúncia.
Em nota, a Abraphe informou que equipamentos de altura elevada como gruas e guindastes devem estar devidamente sinalizados, além de possuírem autorização prévia da Aeronáutica. "Para que não haja conflito com as operações no espaço aéreo, preservando a segurança de voo e a tranquilidade em solo. O Comando da Aeronáutica notifica os pilotos da existência do equipamento por meio de Notam (termo utilizado para as notificações/ avisos aos aviadores)", diz trecho do documento, informando que a altura para o voo de aeronaves, varia de acordo com a região.
Em São Paulo, os helicópteros devem trafegar a 500 pés (cerca de 152 metros) acima de qualquer obstáculo, mas nas regiões próximas ao aeroporto de Guarulhos, essa distância chega a ser de 300 pés (91 metros). "Quando um avião faz a final para Congonhas, ali no sentido do Cebolão, para dentro da Faria Lima, os helicópteros chegam a passar a 300 pés (91,4 metros) em relação a aqueles edifícios da Faria Lima. Se você for ver isso na regulamentação internacional, não poderia ser assim. Porque quando você voa por regras visuais, você tem que ter uma separação mínima de obstáculo", diz o piloto.
Segundo a Abraphe, a entidade se mantém atenta a qualquer indicação sobre empreendimentos que possam colocar em risco a segurança dos pilotos. "A entidade se mobiliza em informar o órgão regulador e os pilotos em operação na área para prevenir acidentes e garantir a segurança de voo".