"Insegurança em algum lugar, hoje, pode facilmente se tornar insegurança para todos os lugares", afirma Mohamed ElBaradei, cuja voz é uma das mais contundentes na oposição às armas nucleares e na promoção do uso da energia nuclear para o desenvolvimento humano. Este é o tema que o doutor em Direito Internacional pela Universidade de Nova Iorque e vencedor do Prêmio Nobel da Paz vai abordar na última conferência do Fronteiras do Pensamento São Paulo 2012, na terça-feira (30, às 20h30, na Sala São Paulo.
Na data, ElBaradei vai comentar as realizações de sua mais recente luta pessoal: a fundação, no Egito, do Partido da Constituição, que visa devolver o espírito de revolução ao movimento jovem da Praça Tahrir, no Cairo, que em fevereiro do ano passado derrubou o ditador Hosni Mubarak durante o movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe.
A trajetória de mais de 20 anos junto à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da qual foi diretor-geral entre 1997 e 2009, conduziu o percurso político de ElBaradei, que tornou-se conhecido por duas importantes questões: as inspeções no Iraque e as declarações sobre armas nucleares no Irã.
Após ter liderado uma das equipes de inspetores de armas da ONU no Iraque, ElBaradei contestou a justificativa dos EUA para a invasão do país, em 2003. O diplomata afirmou que os documentos que supostamente mostravam que o Iraque tinha tentado adquirir urânio da Nigéria não eram autênticos, contradizendo as afirmações do então presidente George W. Bush. Sobre o Irã, ElBaradei afirma que ainda não há evidências concretas de que o país esteja desenvolvendo uma bomba nuclear, contrariando diversos analistas internacionais.
Tendo iniciado sua carreira no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito, ElBaradei trabalhou com questões políticas, legais e de controle de armas. Participou de atividades de diversas organizações internacionais e regionais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Conferência do Desarmamento, a Organização Internacional do Trabalho e a Liga dos Estados Árabes. Lecionou Direito Internacional na Universidade de Nova Iorque entre 1981 e 1987, acumulando, ao longo de sua carreira, mais de 16 títulos de Doutor Honoris Causa de respeitadas universidades ocidentais e orientais, e mais de 25 prêmios por ter conduzido a paz, o desarmamento e a cooperação intercultural.
Na obra A era da ilusão, publicada no Brasil pela editora Leya, o autor narra sua relação com os Estados Unidos, as negociações com o Irã, os protestos em prol da democracia no Oriente Médio e uma perspectiva de futuro sobre armas nucleares. De acordo com o diplomata, as ameaças que enfrentamos hoje - guerra, pobreza, degradação ambiental, doenças transmissíveis e armas de destruição em massa - estão todas interligadas e são "ameaças sem fronteiras", tornando obsoletas as noções tradicionais de segurança nacional. Por sua própria natureza, essas ameaças de segurança exigem cooperação multinacional e instituições internacionais fortes.
"Nós temos de abandonar a noção impraticável de que é moralmente repreensível para certos países desenvolverem armas de destruição em massa e moralmente aceitável outros contarem com elas para sua segurança. Se o mundo não mudar o curso, corremos o risco de autodestruição."