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Ministros fazem pausa no mensalão para plantar árvores

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Em meio ao julgamento da ação penal do mensalão, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aproveitaram o intervalo na sessão desta segunda-feira para um ato ambiental. No chamado Bosque dos Ministros, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Luix Fux e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, plantaram mudas de árvores nativas brasileiras. A ministra Rosa Weber, tímida, preferiu não participar da cerimônia.

O bosque foi criado em 2000, durante a gestão do ministro Carlos Velloso, já aposentado, na presidência da Corte. São dezenas de árvores, algumas ameaçadas de extinção, identificadas por placas com os nomes de quem plantou e a data do plantio. A ação ambiental de hoje era para ter ocorrido na quinta-feira passada, para celebrar o começo da primavera, mas a agenda dos ministros não permitiu.

Ao pegar a pá e apontar a terra que envolvia a muda de ipê-amarelo, Lewandowski fez uma brincadeira com um velho provérbio árabe. "Já escrevi livro, plantei árvore e fiz mais de um filho. Estou com a vida feita", disse.

O ministro Dias Toffoli tentou mostrar mais intimidade com o pé de cafeeiro que estava reservado a ele. Citando o pai, que segundo o ministro era cafeicultor e faria 100 anos hoje, Toffoli brincou dizendo que tinha experiência no assunto, mas menos que o pai.

O ministro Luiz Fux foi mais arrojado. Enfiou os sapatos italianos na terra vermelha do cerrado fez várias poses para os fotógrafos segurando um regador. "Meu pedido é que minha vida seja bela como será essa planta", discursou. A muda de quaresmeira-roxa ainda teve a ajuda de um servidor do Supremo para ficar em pé.

Gurgel, por sua vez, fez troça com a própria saúde. Sem jeito ao empunhar a pá, o procurador-geral da República disse que o braço, que está envolto em uma tala desde antes do início do julgamento, no dia 2 de agosto, não está muito bem para justificar o ato. Em frente ao pé de sucupira-branca, recorreu a metáforas e afirmou que "há tempo para plantar e tempo para colher".

A ministra Rosa Weber foi a única que preferiu não participar da cerimônia. Ela acompanhou os colegas, mas na hora de plantar a muda de ipê-rosa disse que a planta estava "sem flor, com um pezinho seco".

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex- presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.