A Corregedoria de Polícia Civil em Minas Gerais indiciou, nesta sexta-feira, o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, e outros três policiais civis ex-integrantes do Grupo de Resposta Especial (GRE) da corporação mineira pelos crimes de peculato, sequestro e cárcere privado. O documento, assinado pelos delegados Alexandre França Campbell Penna e Luiz Fernando da Silva Leitão e entregue à Justiça na última semana, afirma que o grupo indiciado em maio de 2010 teria executado dois homens abordados na região metropolitana de Belo Horizonte.
As vítimas, identificadas como Paulo César e Marildo Dias, teriam sido mortas da mesma forma que a ex-amante do goleiro Bruno, Eliza Samudio. Segundo o relatório, eles teriam sido estrangulados com um torniquete e depois esquartejados, sendo os corpos jogados para cães criados por Bola e queimados em uma montanha de pneus.
Dentre as provas apresentadas, está o cruzamento de ligações telefônicas que acusou a presença dos quatro indiciados na mesma região e horário do crime, além de testemunhas que teriam reconhecido os acusados e os veículos que utilizaram no dia em que sequestraram as vítimas, incluindo duas viaturas do GRE.
O crime teria acontecido em um sítio às margens da BR-040 na cidade de Esmeraldas, região metropolitana de Belo Horizonte, local alugado por Bola, onde foi construído um centro de treinamento utlizado por alguns integrantes do GRE.
De acordo com o relatório, apesar das provas testemunhais e objetivas indicarem que houve o crime, os suspeitos não foram indiciados por homicídio, uma vez que os corpos não foram encontrados, ao contrário do que aconteceu com oito réus acusados pela morte de Eliza.
O relatório segue para análise no Ministério Público, que decide se oferece denúncia contra os acusados.
O caso de Eliza
Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno responderá como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola vão a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.