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S O PAULO - O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo denunciou 10 pessoas acusadas de envolvimento em um esquema de fraude de licitações para a compra de ambulâncias para a Associação Beneficente Cristã (ABC), ligada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Segundo o MPF, a ABC elaborou procedimento licitatório fraudulento visando a aquisição de sete unidades móveis de saúde, apresentando informações falsas ao Ministério da Saúde, e direcionou as compras a empresas ligadas à chamada "máfia dos sanguessugas".
As emendas orçamentárias que possibilitaram os recursos para os convênios visando a compra das ambulâncias foram propostas por quatro ex-deputados federais da bancada evangélica, todos ligados à Universal.
Segundo a denúncia entregue à 7ª Vara Federal Criminal de São Paulo, somente nos quatro convênios, celebrados entre 2002 e 2005, o esquema criminoso teria causado prejuízos aos cofres públicos que, em valores atuais, superam R$ 2,1 milhões.
A Operação Sanguessuga, realizada pela Polícia Federal, investigou um esquema de fraudes a licitações no Ministério da Saúde, liderado pelos sócios da empresa Planam, sediada em Mato Grosso, com desvio de recursos públicos para pagamentos a parlamentares que propusessem emendas orçamentárias para a compra de ambulâncias para prefeituras ou organizações sociais.
Segundo o MPF, as licitações para as compras dos veículos eram todas acertadas com empresas ligadas ao esquema e as propostas de convênio feitas em conluio entre os principais responsáveis pela empresa Planam e a prefeitura ou entidade social beneficiada. Geralmente, as ambulâncias não vinham com os equipamentos médicos ou odontológicos necessários e o dinheiro que seria destinado aos equipamentos não adquiridos rateado entre os participantes de cada esquema.
No caso específico da Associação Beneficente Cristã, os denunciados Darci Vedoin, sua esposa, Cléia Vedoin, e seu filho, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, os três sócios da Planam, e o empresário Ronildo Pereira Medeiros se associaram ao ex-diretor da ABC, Randal Ferreira de Brito, e ao ex-presidente da entidade, Saulo Rodrigues da Silva, atualmente no exercício do cargo de vereador em Ribeirão Preto, para que a ABC celebrasse quatro convênios com o Ministério da Saúde, mediante informações falsas.
A entidade informou falsamente ser dedicada à saúde, que faria milhares de atendimentos por mês, possuiria diversos profissionais da área médica, além de leitos no SUS, o que justificaria o gasto com ambulâncias.
Para obter os recursos, a ABC contou com a atuação dos ex-deputados federais Wagner Salustiano, Marcos Roberto Abramo, Bispo Vandeval e João Batista Ramos da Silva, todos da bancada evangélica e ligados à Igreja Universal, que apresentaram emendas que previam recursos para a compra dos veículos para a entidade. Fundada em 1994, a ABC era apresentada no site da igreja como entidade sem fins lucrativos tendo como parceira a Universal. Os responsáveis pela entidade muitas vezes eram pastores e bispos da igreja.
Por meio de auditoria, o Ministério da Saúde e a Controladoria Geral da União apuraram que a ABC não era cadastrada no sistema nacional de saúde e não deu o uso adequado às ambulâncias adquiridas, as quais, inclusive, não tinham os equipamentos que justificariam grande parte dos recursos federais obtidos. Ao serem interrogados nos diversos processos e inquéritos policiais que respondem, a família Vedoim e o sócio Medeiros detalharam como funcionavam o esquema e como era a remuneração de parlamentares e assessores envolvidos com as emendas. Darci Vedoin, Luiz Antônio Vedoin e Medeiros eram quem contatavam as prefeituras e as entidades que recebiam as verbas e as orientavam na elaboração das licitações fraudulentas.
Das licitações só participavam empresas ligadas ao esquema, ou que atuavam em conluio com a Planam ou que eram dirigidas pelos mesmos sócios. No caso da ABC, a vencedora de duas licitações, por exemplo, foi a Santa Maria Comércio e Representação, em