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PORTO ALEGRE - "Escapei de ser enterrado vivo quando tinha poucos meses de vida, não é agora que vão conseguir". A frase, do deputado federal gaúcho Pompeo de Mattos (PDT), candidato a vice-governador na chapa encabeçada por José Fogaça (PMDB) nas eleições estaduais no Rio Grande do Sul, é a resposta do parlamentar aos que lhe perguntam se vai desistir da candidatura.
Mattos, ou Pompeo, como ele é conhecido no Estado, está na lista dos 27 políticos que tiveram a candidatura impugnada pela Procuradoria Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (PRE-RS) na última terça-feira. Desde então, o candidato passou a sofrer um bombardeio do chamado fogo amigo - aquele que não vem do adversário, mas sim dos companheiros de batalha, ou, pelo menos, daqueles que assim se apresentam.
O motivo da impugnação de Pompeo gera discussões jurídicas. Ele é um dos deputados conhecidos no Estado como albergueiros (que mantinham albergues por meio dos quais supostamente fariam captação ilícita de votos). Em 2006 eles receberam como sanção permanecer três anos sem concorrer. Mas, com a Ficha Limpa, a punição passaria para oito anos, em razão da retroatividade prevista. Há entre juristas e políticos, porém, quem garanta que a retroatividade não pode ser aplicada.
Além disso, a impugnação por si só não tem efeito. Ela é anexada ao pedido de registro da candidatura e os dois são julgados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que tem até 5 de agosto para deferir ou indeferir os pedidos de registro.
O surpreendente no caso de Pompeo foi a força com que avançaram as especulações sobre sua substituição antes da decisão do TRE, alimentadas não pelos adversários de Fogaça na eleição, mas sim por integrantes do PMDB e do PDT locais, que se apressaram a procurar colunistas e jornalistas de política, para falar sobre reuniões e estratégias em curso.
As impugnações aconteceram na última terça. Na quinta-feira (15) chegou à imprensa a informação de que, na noite anterior, uma reunião na casa do deputado federal Vieira da Cunha (PDT) tratara da substituição. Vieira disputou internamente com Pompeo quando, no final de 2009, o partido ensaiava lançar candidato próprio ao governo. Mas, na quarta-feira à noite, assegura, estava em Brasília. Na sexta-feria (16), notas em colunas citavam nomes de prováveis substitutos. Entre eles, além de Vieira, o candidato a deputado federal Afonso Motta, ex-executivo do Grupo RBS, e a vereadora por Porto Alegre Juliana Brizola (neta de Leonel Brizola e candidata a deputada estadual). Juliana e Pompeo não são próximos. Em 2004 protagonizaram uma pequena polêmica, após a neta de Brizola acusar o então presidente do partido de assédio. Pompeo saiu do cargo.
É fato que o deputado possui uma série de desafetos dentro do próprio partido. Que não recaíam sobre ele as preferências do PMDB quando peemedebistas e pedetistas selaram a aliança para a eleição. E que parte do PMDB acredita que a candidatura de Fogaça sofreria mais desgaste mantendo Pompeo como vice caso seu pedido de registro seja indeferido pelo TRE em 5 de agosto do que se optar por uma substituição imediata no caso de indeferimento, de forma a não estender o desgaste até quase a eleição. O que parece não ter sido calculado foi o prejuízo para a aliança de tentar desidratar o pedetista por antecipação.
A fritura de Pompeo foi o quarto golpe consecutivo na coligação em menos de 10 dias. Em 6 de julho, data do início da campanha, o ex-governador Alceu Collares (PDT) anunciou publicamente que vai votar no petista Tarso Genro para o governo. No dia 10 a pesquisa Ibope apontou Fogaça 10 pontos atrás de Genro na corrida pelo Piratini e um crescimento da governadora Yeda Crusius, candidata à reeleição, que nem o PSDB esperava. No dia 13 veio a impugnação do vice. Agora, integrantes de siglas adversárias comemoram a nova demonstração do que chamam de falta de união.