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Caso Bruno: após recompensa, ligações a disque-denúncia crescem 500%

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Daniel Favero, Portal Terra

DA REDAÇÃO - O número de ligações para o disque-denúncia relacionadas ao desaparecimento de Eliza Samudio cresceu mais de 500% desde que o pai da ex-amante do goleiro Bruno ofereceu R$ 5 mil como recompensa a quem ajudasse a encontrar sua filha, além da repercussão que o caso teve na mídia.

Até o dia 1º de julho, os atendentes do 181 de Minas Gerais e do Rio de Janeiro juntos haviam recebido 29 denúncias relacionadas ao caso (que veio à tona no dia 26 de junho). Desde então, o número subiu para 178, descontadas as ligações infundadas e trotes. Além da repercussão que o caso ganhou ao longo da última semana, pode-se atribuir o aporte de chamados à recompensa oferecida pelo pai de Eliza, Luiz Carlos Samudio: R$ 5 mil a quem ajudasse a encontrar a filha.

Dinheiro é um dos maiores incentivadores para aumentar a colaboração da população com o serviço, que atende pelo 181 em todo o Brasil. No mês passado, o prêmio para quem apontasse os responsáveis pelo incêndio no morro dos Cabritos, no Rio de Janeiro (provocado por um balão de São João), chegou a R$ 2 mil - valor que representa o dobro do oferecido até então em casos de crime ambiental. Graças a isso, o número de denúncias relacionadas a crimes ambientais aumentou 10 vezes naquele Estado (de duas para 20 por dia).

No Rio, a média diária total de ligações é 350; em Minas, cerca de 130. O serviço é considerado de grande importância para os administradores do serviço em cada Estado (que podem ser entidades ligadas ou não aos governos), que com essa ferramenta buscam recolher pistas para solucionar mistérios ou punir criminosos, mas também acabam por atrair grande número de trotes. No Rio Grande do Sul, por exemplo, os trotes chegam a 80% das ligações.

Administrado por uma organização não-governamental (ONG), o Movimento Rio Contra a Violência (MovRio), o serviço carioca é inspirado no sistema americano implantado em 1976 no Estado do Novo México, o Crimestalkers. "Esse sistema era baseado na garantia de preservação da identidade, pagamento de recompensas e mobilização por meio da imprensa", disse Zeca Borges, presidente do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime (IBCC), ao qual a ONG carioca está ligada e que ajudou a implantar o disque-denúncia em Pernambuco, Bahia, Maranhão, Espírito Santo, no sul do Pará e na cidade de Campinas.

No Rio Grande do Sul, o sistema é administrado pelo Departamento de Inteligência da Secretaria de Segurança. "Já recebemos informações sobre presos cavando túneis de fuga, grades cerradas, e princípios de rebelião, que puderam ser evitados", disse o diretor do departamento, delegado João Carlos da Luz Diogo. Ele afirmou que "grandes operações" já foram originadas por um número de telefone ou nome recebido pelo disque-denúncia. Quem administra o disque-denúncia paulista é o Instituto São Paulo Contra a Violência, organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), em parceria com a secretaria de Segurança Pública. Nesse caso, o serviço é completamente financiado pelas federações de indústrias paulistas, sem ônus para o poder público.

Segundo a entidade paulista, o número de ligações chegou a 65,5 mil em 2009, com denúncias envolvendo tráfico de drogas, maus-tratos contra crianças e idosos, furtos e roubos. Os registros são encaminhados online para especialistas da Polícia Civil e Militar, que fazem uma triagem das denúncias. A comunicação com os órgãos competentes é quase instantânea, mas as denuncias dirigidas ao Conselho Tutelar ainda são encaminhadas por fax, porque não há sistema integrado.

Casos de repercussão

O desaparecimento da estudante Eliza Samudio foi um dos casos recentes de repercussão, assim como o caso da advogada Mércia Nakashima encontrada morta no dia 11 de junho em uma represa de Nazaré Paulista, a 60 km de São Paulo, também envolveu o serviço de denúncia. No dia do crime, 23 de maio, um pescador que estava no local disse à polícia que viu o carro dela ser jogado na água, e que ouviu gritos semelhantes aos de uma criança. Ele contou o que viu para um cabeleireiro que, por sua vez, fez a denúncia ao 181 paulista.

Mas nem sempre o resultado é positivo. No caso do desaparecimento da irmã do lutador de vale-tudo Vitor Belfort, em 2004, o disque-denúncia carioca recebeu cerca de 600 ligações, além de oferecer uma recompensa de R$ 10 mil, mas até hoje a jovem não foi encontrada.

Trotes

As chamadas consideradas indevidas e os trotes correspondem em média a 80% das ligações recebidas no Rio Grande do Sul. São brincadeiras de crianças, pessoas fazendo piada, e nos casos mais graves, denúncias falsas. "O maior número de trotes são recebidos entre 11h e 14h, horário de entrada e saída das escolas. No entanto, a situação mais preocupante é em relação às denúncias falsas, nas quais a polícia vai até o local pra fazer a averiguação e descobre que se tratou de uma brincadeira", disse o delegado João Carlos da Luz Diogo.

Estratégia lembra filmes de espionagem

O pagamento de recompensas do disque-denúncia do Rio de Janeiro é feito nos moldes do que se vê em filmes de espionagem. Quando a pessoa faz a denúncia recebe uma senha e, por meio desse número, acompanha o andamento do caso. Se a informação gerar resultado, como a apreensão de balões, o denunciante pode receber a recompensa, que nesse caso varia entre R$ 300 e R$ 2 mil.

De acordo com o serviço carioca, a pessoa não se identifica, nem mesmo ao receber o dinheiro da recompensa. Ela recebe uma senha, uma contra-senha e combina para receber o dinheiro em um local público, citando apenas a descrição da roupa que usará. O denunciante encontra o responsável pelo pagamento, recebe a senha, dá a contra senha (uva e salada de frutas, por exemplo) e recebe o montante, em espécie, sem se identificar.

181 vale para todo o País

No Brasil inteiro, o disque-denúncia atende gratuitamente pelo número 181. O protocolo é o mesmo em todos os Estados. A denúncia deve ser levada à autoridade responsável em até 24 horas, polícia ou bombeiros fazem uma triagem das informações, e o denunciante deve receber retorno sobre o andamento do que foi denunciado