Fernando Diniz, Portal Terra
BRASÍLIA - O jornalista Edson Sombra, que auxiliou no flagrante do servidor aposentado Antônio Bento Silva pela Polícia Federal, afirmou nesta quinta-feira que o suspeito foi apenas o "intermediário do suborno do governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM)". De acordo com Sombra, Silva não teria condições de arrecadar R$ 200 mil para tentar convencê-lo a favorecer Arruda em depoimento à PF.
Antônio Silva foi preso na manhã desta quinta-feira. O flagrante foi montado pela própria testemunha, em um restaurante no sudoeste de Brasília. Edson Sombra, que é amigo de Durval Barbosa, o principal delator do suposto esquema de distribuição de propinas a parlamentares pelo governo Arruda, disse ter recebido a proposta de afirmar que os vídeos gravados pela Operação Caixa de Pandora se tratavam de uma armação. A entrega do dinheiro foi gravada pela PF, que prendeu Silva em flagrante.
"Eles queriam que eu dissesse que os vídeos foram todos montados. Queriam que eu desse esse depoimento. Seria como uma defesa política de Arruda", disse Edson Sombra.
Antônio Silva era colega de trabalho da testemunha, que é jornalista responsável do jornal O Distrital. Silva era gerente comercial da publicação. Em nota, o governo do Distrito Federal acusou Sombra de promover uma armação contra Arruda, destacando o fato de o nome do preso e da testemunha trabalharem no mesmo lugar. Horas mais tarde, o nome do preso foi retirado do site do jornal.
A exclusão causou "estranheza" ao governo Arruda, segundo a nota. Mas, para o jornalista, Antônio Silva não teria mais condições de trabalhar no local após o flagrante. Sombra disse que a relação de trabalho entre os dois era "espetacular". Segundo ele, o ex-colega era amigo de Arruda e acompanhou os "melhores e piores momentos do atual governador".
Entenda o caso
O mensalão do governo do DF, cujos vídeos foram divulgados no final do ano passado, é resultado das investigações da operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O esquema de desvio de recursos públicos envolvia empresas de tecnologia para o pagamento de propina a deputados da base aliada.
O governador José Roberto Arruda aparece em um dos vídeos recebendo maços de dinheiro. As imagens foram gravadas pelo ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, que, na condição de réu em 37 processos, denunciou o esquema por conta da delação premiada. Em pronunciamento oficial, Arruda afirmou que os recursos recebidos durante a campanha foram "regularmente registrados e contabilizados".
As investigações da Operação Caixa de Pandora apontam indícios de que Arruda, assessores, deputados e empresários podem ter cometido os crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva e ativa, fraude em licitação, crime eleitoral e crime tributário.