Portal Terra
SÃO PAULO - Assim que a água baixou no centro histórico de São Luiz do Paraitinga, cidade a 182 km de São Paulo, os moradores começaram a visualizar o estrago provocado pela cheia que devastou o município na virada do ano. Ainda sob o efeito do desabamento da igreja matriz, símbolo do município, perceberam que a vida vai demorar para voltar ao normal. Aos poucos, os comerciantes tomaram coragem para abrir seus negócios, cobertos até o teto pela água e pela lama. Todo o estoque perdido. Em uma cidade que não chega a 11 mil habitantes, boa parte se conhece. Ao se cruzarem, cumplicidade no olhar. Alguns param, conversam, e até deixam escapar lágrimas. Seguem. Há muito o que fazer.
Do primeiro andar do Hotel Barão, objetos são atirados para o meio da rua, onde o lixo é acumulado. Primeiro uma almofada de sofá, depois um estrado de cama. No térreo, funcionários fazem uma força tarefa para retirar uma camada espessa de lama. Do lado de fora, uma escavadeira junta o material. As caçambas estão paradas na entrada da cidade. Vão entrando aos poucos e levando o que não serve mais.
A lista é imensa. Sobre os fios de eletricidade, ainda podiam se observar alguns eletrodomésticos. Uma TV de 14 polegadas fazia companhia a uma cadeira branca. Próximo à igreja matriz uma geladeira também podia ser vista sobre os fios. Carros empilhados estavam expostos na rua que passava atrás da igreja matriz, que teve a agonia da queda de suas torres gravadas e mostrada em todo o Brasil. Fogões se juntavam a aparelhos de microondas enlameados. Em frente a uma creche, pilhas de livros, ainda sem uso, esperavam a próxima caçamba.
Passados cinco dias da enchente, o cheiro dos alimentos estragados já era forte. Uma quitanda deserta ainda expunha as frutas estragadas. Alimentos dos supermercados e das padarias, misturados à lama, eram varridos para fora dos comércios. Em outros locais, nem possível entrar era. Na porta, o aviso em letras vermelhas: "Interditado. Risco de desabamento".
No meio da rua, onde os objetos se acumulavam, alguns moradores tentavam garimpar algum objeto pessoal. Algo que pudesse ser aproveitado. Alguns talheres, latas, bijuterias eram guardados em sacolas, assim como peças de roupa. Ainda que desaconselhadas por um policial militar, avó e neta tentavam recuperar roupas da loja da família. Conseguiram levar algumas peças, ainda na embalagem. O policial insistia que nenhuma roupa valia o risco que estavam correndo. Desistiram.
A expectativa é a de que a limpeza se encerre em duas semanas. A partir daí, o recomeço deve ser gradual. Sem a recuperação dos prédios, o comércio não poderá abrir as suas portas. Moradores que perderam tudo ainda não sabem como será feita a reforma das casas, muito menos quando começará a ser mobiliada novamente. Por enquanto, apenas o medo de uma nova chuva.