ASSINE
search button

Lei Antifumo apagou cigarros e acendeu polêmicas entre fumantes

Compartilhar

Portal Terra

SÃO PAULO - Um encontro reuniu neste fim de semana alguns dos fumantes que participam de um debate no Twitter sobre a Lei Antifumo aprovada em São Paulo. A lei, em vigor desde o dia 7 de agosto, proíbe cigarros em espaços fechados de uso coletivo em todo Estado. E foi seu impacto na vida desses fumantes twitteiros o principal tema do bate-papo que ocorreu em um bar na região da avenida Paulista, zona oeste de São Paulo.

Foi em uma mesa dentro do bar que, para o desespero dos participantes, não permitia cigarro aceso, que o papo começou. "Vou fumar lá fora e já volto", foi sem dúvida a frase mais ouvida ali.

- Mas eu, honestamente, diminuí bastante o número de cigarros por causa da lei. Antes eu fumava uns 30 por dia, agora se chegar a 10 é muito - disse o booker José Argenato Filho (Tato para os íntimos), 48 anos, que vai muito a casas noturnas durante a semana. "Era na balada o local onde eu mais fumava, então...", afirmou.

- Putz, já eu aumentei - rebateu Caio Facchinato, consultor de informática de 24 anos, que comentou o salto inverso ao de Tato, de 10 para 30 cigarros por dia. - É que antes eu fumava ocasionalmente, mas agora, que eu tenho que ir para o local X para poder fumar, aproveito e já fumo vários de uma vez ali mesmo - explicou.

Conversa rolando, cerveja na mesa, mas o cigarro apagado no bolso estava fazendo falta? "Agora? Pra mim não. Sei lá, a conversa tá boa, não tô sentindo falta, não¿, disse Tatiana Bandeira, 30 anos, jornalista. Caio discordou: "Ah, faz falta, sim. O cigarro tira o amargo da cerveja, serve como aperitivo, é outra coisa poder beber e fumar ao mesmo tempo".

Controvérsias e contradições à parte, Tatiana foi a primeira a deixar a mesa para ir fumar na calçada.

A mesa, vez ou outra, fez papel de confessionário para os fumantes twitteiros. "Vou admitir que essa semana eu enganei um segurança de uma balada e fui fumar dentro do banheiro. E ainda saí reclamando com ele, 'ô, ta mó cheiro de cigarro ali dentro'", disse Tato.

- É, balada pede cigarro, essa semana eu ainda saí pouco, mas quando tiver que ir sei que vou sofrer - concordou Tatiana.

Mas Tato voltou atrás:

- Eu, na verdade, sempre achei muito chato fumar na balada. O problema que notei é que, sem a fumaça do cigarro no ambiente, aquele cheiro de perfume de 'quinta' vem à tona, sabe? O povo parece que toma banho de perfume, credo. Nossa, e o cheiro de cozinha, de comida, pode crer - acrescentou Tatiana.

O xaveco do isqueiro

Atento a outros tipos de cheiros, Caio mencionou um importante benefício que a Lei Antifumo trouxe aos solteiros. Ele explicou que a melhor hora para a ação quando os fumantes se encontram na calçada das baladas ou bares.

- O lance é você fingir que tá sem isqueiro. Nem que você tenha 17 isqueiros ali, mete a mão no bolso e finge que tá sem nenhum. Aí, pede emprestado pra ela - explicou. Segundo ele, a vantagem de agora é que as pessoas ficam paradas no mesmo local até o cigarro acabar, possibilitando uma conversa mais longa e o xaveco.

O mesmo Caio contou um episódio curioso que divertiu seus colegas de fumo e Twitter na mesa. "Cheguei no dono de um bar lá perto de casa e perguntei, 'posso fazer uma palhaçada?'. Bom, eu e meus amigos pegamos uma mesa do cara e colocamos na caçamba da minha pick up, com as cadeirinhas em volta, e começamos a beber e fumar. Tava na rua, né, então podia. Engraçado que aos poucos foi chegando mais e mais pessoas, deu certo, viu".

Diminuir ou aumentar, eis a questão

Tato disse que diminuiu de 30 para 10 cigarros por dia. Caio apontou um aumento com esses mesmos números. Mas afinal, na saúde e organismo destes dois, esses cigarros a menos e a mais vão fazer real diferença?

- Hoje em dia calcula-se o efeito do cigarro na saúde de uma pessoa com base no número de maços que ela fuma durante a vida. Ou seja, quanto mais maços, maior as chances de desenvolver alguma doença. Assim, sem dúvida que é positivo uma pessoa deixar de fumar um numero X de cigarros por dia, pois isso pode, lá na frente, fazer sensível diferença - explicou Augusto Cesar de Macedo Neto, radiologista especializado em medicina interna (tórax, abdome e pelve).

O médico explicou ainda que, por mais que uma pessoa fume a bem menos tempo que outra, se comparativamente ela fumou mais maços que aquela que é fumante há mais tempo, suas chances de desenvolver uma doença decorrente do cigarro torna-se potencialmente maior.

- Em geral quem fuma muito e durante muito tempo tem mais chances de adoecer do que aquele que fuma pouco, ou há pouco tempo - completou.