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STF decidirá sobre cotas para negros no vestibular

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Jornal do Brasil

BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal recebeu do Democratas pedido de suspensão liminar da adoção, pela Universidade de Brasília, de cotas para admissão de vestibulandos negros e pardos. A medida começou a ser praticada em 2000 no estado do Rio de Janeiro por diversas universidades federais e depois se estendeu à Universidade Federal da Bahia, sendo adotada em seguida pela UnB.

Está previsto para os dias 23 e 24 de julho o registro dos estudantes aprovados no segundo vestibular de 2009 da Universidade de Brasília, tendo sido fixadas 20% das vagas para eles. O DEM alegou na medida impetrada no STF que vão ocorrer danos irreparáveis se a matrícula se basear em cotas raciais, a partir de critérios dissimulados, inconstitucionais e pretensiosos . Para o partido, fica caracterizada ofensa aos estudantes preteridos e por isso pede a legenda pede resposta urgente do Supremo.

Os advogados do DEM alegam que estão sendo violados diversos preceitos fundamentais fixados pela Constituição de 1988, como a dignidade da pessoa humana, o preconceito de cor e a discriminação, afetando o próprio combate ao racismo.

Um marco

Para o ex-assessor de Diversidade e Apoio aos Cotistas e coordenador do Centro de Convivência Negra da UnB, professor Jaques Jesus, o obedecimento de cotas na UnB se insere num marco na batalha pela inclusão social, como defendia um dos fundadores da UnB, o professor Darcy Ribeiro . Segundo Jaques Jesus, que até agosto do ano passado era gestor do sistema de cotas na UnB, o sistema é justificável diante da constatação de que a universidade brasileira é um espaço de formação de profissionais de maioria esmagadoramente branca, valorizando assim apenas um segmento étnico na construção do pensamento dos problemas nacionais, de maneira tal que limita a oferta de soluções para os problemas do país .

O advogado Valmir Pontes Filho, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por sua vez, combate a fixação de cotas em universidades, porque entende que isso estimula a discriminação. O critério, segundo ele, deveria ser estabelecer cotas para quem for mais pobre, sem levar em conta a sua cor, defende Pontes. Segundo o conselheiro, em determinadas áreas do Nordeste existem lavradores brancos, de olhos azuis, muito pobres, descendentes dos exploradores holandeses que invadiram o Brasil na época da colonização.

Eles em nada são diferentes de pessoas que tenham outra cor de pele. A diferença está na questão econômica e social argumenta.

O combate à discriminação racial em todos os gêneros, assinala, começa no coração e na cabeça de cada um, e o Brasil ainda carrega o ranço do preconceito, que só com muito trabalho e convencimento será superado . O jurista reconhece que os negros foram historicamente discriminados na época da escravatura, e o país precisa ter em mente que eles devem ser tratados como iguais e não por causa da cor da pele .

A decana de Ensino de Graduação da UnB, Márcia Abrahão, disse nesta terça-feira que a instituição recebeu com surpresa o pedido de liminar encaminhado pelo DEM.

É um sistema consolidado, aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da universidade, que é autônoma justificou. A professora defendeu a garantia de 20% das vagas do vestibular para negros e pardos e afirmou que a liminar do DEM não coloca em risco a continuidade do sistema. A universidade está segura de que o sistema de cotas só enriquece a instituição. Nossa avaliação das cotas é excelente. Fez com que a universidade se abrisse, ampliou a diversidade.

Os alunos que entram na UnB pelo sistema de cotas fazem as provas do vestibular como os outros estudantes e só são selecionados os que obtém as notas mínimas exigidas pelos cursos.

Só entram depois de aprovados no vestibular. Não houve queda na qualidade da instituição, pelo contrário, a universidade ganhou em riqueza cultural defende a decana. A UnB não foi notificada da ação, segundo Márcia. Ficamos sabendo pela imprensa.

As providências judiciais, como a apresentação de um possível recurso ao STF, serão tomadas pela Advocacia Geral da União (AGU), de acordo com a decana. (Com agências)