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Pressão contra Sarney ajuda a aliança PT-PMDB

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Raphael Bruno, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - A vigorosa defesa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por auxiliares mais próximos do governo, incluindo a ministra da Casa Civil (e pré-candidata do PT à sucessão de Lula, Dilma Rousseff), do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi comemorada, principalmente por aliados do peemedebista, como um sinal de que a parceria entre os dois partidos, marcada por relações turbulentas nos últimos anos, dá sinais de solidez para as eleições de 2010. A insistência de Lula para que a bancada petista no Senado fizesse uma interpretação política-eleitoral da crise que tomou conta da Casa e das denúncias que envolveram Sarney é mais um gesto de um longo processo de azeitamento da poderosa aliança entre os dois maiores partidos brasileiros: detentores das bancadas mais numerosas da Câmara e do comando de milhares de prefeituras, juntos, PT e PMDB podem garantir à Dilma, em 2010, a liderança em tempo de propaganda eleitoral na TV, vantagem considerável tendo em vista que essa será a primeira eleição desde a redemocratização em que a estrela maior petista, figura carimbada de cinco campanhas presidenciais, Lula, cederá espaço para uma candidata que, embora em franca ascensão nas sondagens de intenção de voto, era até pouco tempo desconhecida pela maior parte do eleitorado brasileiro.

Tempo precioso

A liderança no tempo de televisão nas eleições presidenciais não é algo com o qual o PT está acostumado. Em 2006, Lula teve de enfrentar uma desvantagem de pouco mais de três minutos a menos de programa em relação a seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin. Enquanto o então candidato à reeleição pela coligação A Força do Povo contabilizava 7m12s diários em cada bloco de programa, a coligação Por um Brasil Decente , do então governador de São Paulo, somava 10m13s de propaganda.

Em 2002, ano da primeira eleição de Lula, a situação era ainda pior para o petista. A coligação de Lula, então apoiada por PT, PL, PCdoB, PMN e PCB tinha direito a apenas 5m19s de propaganda por bloco. Já o tucano José Serra, apoiado pelo PMDB, contabilizava quase o dobro, 10m23s. Menos pior para o petista que outros dois candidatos que se situavam na oposição ao PSDB, Ciro Gomes e Anthony Garotinho, somavam juntos 6m13s e ocupavam parte de seus programas com críticas ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, dando mais equilíbrio à disputa.

Se concretizada a aliança entre PT e PMDB, uma candidatura de Dilma apoiada unicamente pelos dois partidos já contaria com mais tempo de televisão do que o candidato tucano, ainda a ser definido entre os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves. A diferença em relação ao adversário do PSDB pode ser ainda maior se outros partidos que hoje integram a base aliada embarcarem formalmente na coligação de Dilma, podendo chegar, com a inclusão de PDT, PSB e PCdoB, a cerca de três minutos e meio de vantagem para a petista. Só o PMDB, com sua bancada de 89 deputados eleitos em 2006, acrescenta, dependendo do cenário, mais de quatro minutos em tempo de televisão.

Quem não gostar tem que reclamar com o povo, que foi quem votou em massa no PT e no PMDB em 2006 diz o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). Isso é uma consequência da democracia.

Todas essas nuances serão levadas em consideração, seria realmente uma aliança muito importante, mas existe todo um passo a passo dentro do partido antes de uma decisão definitiva disfarça a presidente em exercício do PMDB, deputada Íris de Araújo (GO). A parlamentar deixa a entender que o apoio do governo a Sarney ainda não fechou a fatura de 2010, mas sinaliza que deixou muito próximo disso. Não seria por uma atitude de apoio do presidente Lula que uma decisão desse porte seria definida. O PMDB tem sua vida partidária, cada diretório tem sua realidade que precisa ser analisada com cuidado. O acerto nacional tem uma evolução natural e não arrisco nenhuma previsão, mas é um processo que está caminhando.