Norma Moura, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - Mesmo com o aumento no número de pessoas monitoradas devido à gripe suína, especialistas ouvidos pelo JB, depois de avaliarem as medidas adotadas pelo governo brasileiro e o grau de vulnerabilidade do país, foram unânimes em afirmar que não há motivo para pânico. Neste momento, afirmam eles, mais do que as medidas adotadas consideradas satisfatórias a população tem papel fundamental no cont role da disseminação da doença.
Estamos vulneráveis como o mundo todo, mas as providências tomadas estão corretas. A oportunidade de conter o avanço da doença é agora, com as medidas de vigilância, isolamento e contenção adotadas avalia o médico infectologista Carlos Starling, da Sociedade Mineira de Infectologia.
O presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Julival Ribeiro, não descarta a possibilidade de a doença chegar ao Brasil, mas também apoia as decisões do governo:
A Organização Mundial de Saúde elevou o nível de alerta da doença para a fase 4, o que significa que há risco de pandemia. É possível que a influenza suína chegue ao Brasil, e não se pode dizer que as medidas de vigilância impedirão 100% a entrada do vírus, mas elas são as medidas cabíveis.
Para os especialistas, os próximos 15 dias são cruciais para as autoridades sanitárias impedirem a entrada ou a disseminação do vírus no país. Devido ao período de de incubação do H1N1, é nesse momento que o monitoramento de todos os passageiros vindos de países com registro de pessoas infectadas pode diminuir a vulnerabilidade da população.
O mais importante nesse momento é a vigilância e o envolvimento de toda a sociedade para fazer a detecção precoce e permitir que se tome providências rápidas avalia Ribeiro.
O imunologista Roque Pacheco, da Sociedade Brasileira de Imunologia, explica que toda doença envolve três aspectos: o agente infeccioso (no caso o H1N1), o hospedeiro (os humanos) e o ambiente, que pode favorecer a disseminação do vírus, que pode se propagar junto a aglomeração e poluição, que diminui a resistência do indivíduo e favorece a sobrevivência do vírus. Essa junção, segundo Pacheco, favorece a epidemia.
Em termos imunológicos, todo vírus novo apresenta um risco porque as pessoas não têm anticorpos para combatê-lo. Na fase aguda da doença, quem está contaminado transmite uma grande carga viral. Não temos ainda como avaliar qual será a reação dos brasileiros em termos de resposta imunológica, mas a diversidade genética da população é grande, o que aumenta as chances de defesa contra vírus diz Pacheco.
Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico Juvêncio Furtado também ressalta a importância da participação da população para evitar que a gripe afete os brasileiros.
As medidas anunciadas pelo governo são importantes, mas não suficientes, pois o período de incubação do vírus varia de 48h a cinco dias. Por isso, a importância da divulgação de medidas educativas e de alertar a população para cuidados higiênicos simples, que podem evitar o contágio pela doença.
É fundamental oferecer o máximo de informação à população, que deve conhecer as formas de precaução e o que fazer em caso de suspeita da doença reitera Starling.
O presidente da SBI destaca que, além da vigilância do Ministério da Saúde e a participação da sociedade, um terceiro fator será determinante para evitar que brasileiros sejam vitimados pela gripe suína: o preparo do governo em tratar rapidamente as pessoas contaminadas.
A doença tem tratamento. O diagnóstico precoce é fundamental, para que o paciente receba o antiviral específico em até 48h. É o que se pode fazer, como foi feito nos Estados Unidos, onde nenhuma pessoa infectada morreu até o momento.
O infectologista Julival Ribeiro concorda:
Os hospitais precisam estar prontos para atender os pacientes, pois agilidade é fundamental para evitar a disseminação da doença e as mortes.