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Teses de Unger para o Nordeste despertam aplausos e dúvidas na Bahia

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Agência Brasil

SALVADOR - As teses para um novo plano de desenvolvimento do Nordeste apresentadas pelo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, foram recebidas na Bahia com um misto de aprovação e certa desconfiança na capacidade de implementação efetiva de alguns pontos.

A primeira parada da comitiva do governo federal - que passará também por Alagoas, Rio Grande do Norte e Pernambuco - foi em Juazeiro, no noroeste baiano. O grupo reúne representantes da Casa Civil, dos Ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Integração Nacional e Educação, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

No início da exposição de seu projeto a prefeitos e lideranças regionais, o sotaque herdado pelo ministro dos longos anos vividos nos Estados Unidos rende um comentário espontâneo.

- Vixi! O homem é gringo - exclamou uma pessoa presente.

Na primeira frase, a recepção já é outra.

- Não há solução para o Brasil sem solução para o Nordeste. No Nordeste vive quase um terço da nação e é a partir daqui que o país deve reconstruir um modelo de desenvolvimento - assinalou Unger, sob aplausos entusiasmados da platéia.

O discurso do ministro é centrado na apresentação de cinco vertentes, a partir das quais ele pretende consolidar um projeto de desenvolvimento para a região, que contemple sugestões e experiências locais bem-sucedidas.

A primeira vertente é o estímulo à expansão da agricultura irrigada feita com sucesso em Juazeiro e outras cidades do Vale do São Francisco e de sequeiro, com a promoção de um processo de industrialização rural capaz de agregar valor ao trabalho do campo. O ministro defende o fim da divisão ideológica entre as agriculturas familiar e empresarial.

- Só há uma agricultura no mundo e é preciso dar à agricultura familiar características cada vez mais empresariais, sem que ela perca, com isso, sua ligação com a policultura e o compromisso de descentralização de propriedade - argumentou Unger.

Já em Salvador, onde o ministro repetiu o discurso a um novo grupo de autoridades e lideranças, há quem discorde em parte nessa questão.

- Eu considero que já foi delimitado o espaço para a agricultura familiar e a empresarial. Se torna muito difícil voltar atrás disso e homogeneizar. São formas diferenciadas de tratamento - ponderou o secretário interino de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, sem deixar de ressaltar sua aprovação aos demais aspectos.

O empresário Hans Guerrieri foi mais contundente na crítica à prioridade proposta pelo ministro à expansão da irrigação.

- Você inicia o processo por meio de poços artesianos . Mas e depois? A água vem de onde? O Rio São Francisco não abastece tudo. Vai se trazer o Rio Amazonas para o Nordeste brasileiro? - questionou.

As demais vertentes traçadas por Unger são: a construção de um modelo industrial ancorado em redes de pequenas e médias empresas; o ensino médio com foco na formação técnica flexível; a evolução dos programas de transferência de renda para capacitação e geração de oportunidades de trabalho; e a prioridade a grandes projetos industriais que garantam a transformação social em seu entorno e não se pautem por exploração de mão-de-obra barata.

Em Juazeiro e Salvador, Unger recebeu diversas apelos, como a inclusão de projetos de energia nuclear , a previsão de maior volume de recursos para especialização de profissionais da educação regional e para crédito agrícola . O ministro solicitou que todas fossem encaminhadas por e-mail à sua pasta.

- Vejo com esperança de termos um projeto de longo prazo para o Brasil, que pense o país de forma ampliada. O ministro está fazendo algo importantíssimo, ao conhecer as demandas e territórios, não penas no campo da teoria - afirmou Dora Leal Rosa, diretora da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia.

O ministro também foi questionado sobre o papel que cada instituição exerceria na efetivação do plano. Ao fim da viagem pelo Nordeste, será formado um grupo executivo que ficará responsável por traduzir as vertentes em possíveis ações concretas a serem implementadas por meio da colaboração entre o governo federal e os estados. A idéia é levar uma proposta consolidada ao Fórum de governadores do Nordeste, par que ela seja referendada politicamente, e em seguida encaminhada ao presidente da República para implementação.

Unger declarou ter recebido do presidente Luiz Inácuio Lula da Silva a missão de concluir um plano nacional de desenvolvimento com ações a serem implementadas até 2022. Faz parte dela o Programa Amazônia Sustentável (PAS), coordenado por ele.