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MST completa 25 anos de olho na Presidência

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Vasconcelo Quadros , JB Online

BRASÍLIA - Dono de uma invejável base social um universo de dois milhões e meio de pessoas distribuídas em assentamentos rurais e acampamentos de beira de estrada em todo o país o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chega aos 25 anos empenhado em ajudar a eleger em 2010 um governante de esquerda que restabeleça a bandeira do socialismo e se comprometa com um projeto de reforma agrária de massa.

Como fez há um quarto de século ao romper os vínculos com a Igreja Católica e com os sindicatos para se tornar autônomo, o movimento agora quer se distanciar de seus dois mais velhos parceiros, o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas está de olho na passarela por onde desfilam os presidenciáveis e numa eventual polarização entre o PSDB, com o nome do governador de São Paulo, José Serra, e o PT, com a ministra Dilma Roussef.

Este é um debate que está acontecendo e não há posições definidas pelo MST. Todavia, se for o cenário político da próxima eleição presencial se configurar em torno da Dilma e do Serra, uma tendência será de o MST apresentar suas propostas para uma política de desenvolvimento territorial para os dois candidatos, mas não manifestar posição como aconteceu na segunda eleição de Lula diz o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, um dos maiores estudiosos do movimento, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq).

Se o eleito for um progressista, facilita as mobilizações. Mas o nome ainda não é uma preocupação do MST sustenta Fedenir de Oliveira, coordenador do movimento no Rio Grande do Sul. Pelo passado de guerrilheira e a simpatia que ainda desfruta nas fileiras esquerdistas, Dilma é, entre os presidenciáveis com perspectiva de crescimento, quem mais poderia atrair a simpatia dos movimentos sociais capitaneados pelo MST, que há muitos anos deixou de ser apenas um ator rural para exercer forte influência nas áreas urbanas.

Fórum

De olho nessa seara, o presidente Lula já marcou seu nome na agenda do Fórum Social Mundial, no próximo dia 30, em Belém, e deverá levar a ministra a tira-colo. Sua pretensão esbarra, no entanto, na disposição do MST em romper com o governo, seis anos depois de ajudar a elege-lo.

O governo Lula é uma coisa, nós somos outra. Nossas críticas ao Lula é porque ele se afastou da esquerda. Olhando para 2010 a gente espera que o governo seja mais à esquerda que o de Lula - diz o economista João Pedro Stédile, fundador e principal dirigente nacional do MST. Ele afirma que também se esgotou o casamento forjado nas lutas de classe entre MST, PT e Central Única dos Trabalhadores (CUT), fundada por Lula no início da década de 1980.

Nascemos juntos, como parceiros de um mesmo projeto. Cada um na sua trincheira, mas todos se ajudando. Esse ciclo terminou na década de 1990, com o descenso do movimento de massas decreta Stédile.

Nas palestras que fez durante o encontro encerrado ontem em Sarandi, sede do assentamento que resultou na primeira e mais importante invasão de terras, a Fazenda Anoni, e em artigo divulgado no portal do movimento, Stédile disse que os grandes inimigos dos sem terra já não são mais apenas o fazendeiro, dono de grandes extensões de terra, mas as empresas transnacionais, o capital financeiro que as financia e o modelo do agronegócio protegido pelo governo Lula.

Se Lula tivesse cumprido a Constituição, desapropriando as terras improdutivas, o MST nem existiria mais. Mas 25 anos se passaram e estamos aí. A reforma agrária é igual feijoada, que precisa do feijão assim como nós precisamos de terra (improdutiva) para continuar a luta diz Gilmar Mauro, outro dirigente nacional. Para os dirigentes do MST os novos alvos agora são as empresas multinacionais que estão por trás dos fazendeiros e o governo, que os protege, colocando em primeiro lugar a produção e não a eliminação da pobreza.