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BRASÍLIA - A cerca de duas semanas das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta o desafio de manter a unidade da coalizão que o apóia em meio à disputa entre PMDB e PT, os dois maiores partidos da base.
Lula precisa assegurar governabilidade ao Executivo no Congresso e evitar que a maior parte do PMDB se afaste do governo e se aproxime da oposição para a eleição presidencial de 2010. As eleições para as presidências da Câmara e do Senado estão marcadas para o dia 2 de fevereiro.
O PT reafirmou o apoio ao deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB, à presidência da Câmara. Cobra, no entanto, reciprocidade no Senado para Tião Viana (PT-AC), que enfrenta o atual presidente da Casa, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), e os boatos de que o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) tenta obter consenso em torno de uma eventual candidatura.
- Deixamos de forma muito clara que não há sustentação política para o PMDB ter a presidência das duas Casas - disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).
Segundo a senadora, a candidatura de Viana é irreversível e o PT não deve abrir mão de disputar o comando do Senado. Em primeiro lugar, argumentou, porque a bancada do PT perguntou várias vezes a Sarney se o peemedebista estava interessado em se candidatar. Como o senador aliado negou a intenção, Viana anunciou sua disposição de concorrer ao cargo.
- Não tem como retirar a candidatura dele (Viana). Essa condição deixou de existir - disse.
Além disso, destacou Ideli, o governo não deve ficar preso à avaliação de que poderá perder um aliado para 2010 se desagradar aos senadores peemedebistas, pois certamente o PMDB estará dividido na eleição presidencial. - Não consigo enxergar viabilidade nisso porque ninguém responde pelo PMDB com segurança total - sublinhou a senadora. - O PMDB é um partido que não tem porta-voz. A divisão é sempre o grande trunfo do PMDB - disse.
Líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES) concorda com a tese de que a divisão de poderes entre o PT e o PMDB no Congresso é o melhor para a base aliada. - Na política, tudo que desequilibra pode criar problemas lá na frente - alertou.
Líder do governo no Senado e ligado a Sarney, Romero Jucá (PMDB-RR) disse que sua missão é tentar fortalecer Viana, o que não tem sido fácil. O senador lembrou ainda que não adianta o governo insistir na candidatura do petista e sair derrotado na eleição. - Para ser construída, primeiro tem que ser uma solução que englobe todos os partidos e depois que dê a vitória ao Tião. Não adianta lançar o Tião e não ganhar - ponderou Jucá.
Na terça-feira, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, afirmou algo parecido: 'O governo quer ser parceiro do resultado das eleições'.
Nos últimos dias, cresceram os rumores de que Sarney, que vinha dizendo que só seria candidato se seu nome obtivesse o consenso dos colegas, teria decidido participar das eleições. Lula tentou durante a semana conversar com o peemedebista sobre o tema para definir se o Executivo deixaria de apoiar Viana para reforçar a candidatura de Sarney. Como o parlamentar alegou estar fortemente gripado, o encontro foi adiado.
Não bastasse a disputa entre o PT e o PMDB do Senado, a harmonia da base aliada na Câmara também está em risco. Com a intenção do PMDB do Senado em manter a presidência da Casa, setores do PT passaram a defender o rompimento do acordo fechado com Temer, que já obteve o apoio de 12 partidos governistas e da oposição.
- Conseguimos desvincular totalmente a Câmara do Senado - aposta o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). - A questão (acordo entre PT e PMDB) se ateve apenas à Câmara dos Deputados - disse.
Além disso, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que integra a base aliada, lançou-se na disputa pela presidência da Câmara com o apoio do PSB e de parte do PDT. Ciro Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDB-PR) são os outros candidatos na Casa.
Lula tem duas semanas para equacionar a delicada situação no Senado. Se mantiver o apoio a Tião Viana, pode perder apoio do PMDB e a maioria na Casa, que já é considerada frágil. Se optar por Sarney, segundo petistas, estaria fortalecendo demais o PMDB, um partido que poderia abandoná-lo em 2010.