Jornal do Brasil
BRASÍLIA - A crise diplomática entre Brasil e Itália aberta com a decisão do governo brasileiro de conceder refúgio político ao ex-ativista Cesare Battisti, condenado, no país europeu, à prisão perpétua por quatro assassinatos, ganhou conotações mais dramáticas ontem. O ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, afirmou que a decisão coloca em risco a amizade entre os dois países.
Em entrevista à televisão italiana, o ministro La Russa qualificou como incrível a medida que impede a extradição de Battisti, solicitada pela Justiça italiana. O subsecretário das Relações Exteriores italiano, Vincenzo Scotti, também considerou muito grave a decisão do Brasil de conceder o status de refugiado político a Battisti.
Não se compreende as razões da decisão, não se entende como se pode levar para a política os crimes previstos no código penal italiano disse Scotti.
O vice-prefeito da cidade de Milão, Riccardo De Corato, da coalizão governista Povo da Liberdade, foi ainda mais incisivo e propôs o boicote aos produtos brasileiros como forma de pressionar o Brasil a reconsiderar a decisão de conceder asilo político ao ex-ativista.
Boicotemos o Brasil para protestar contra a não extradição de Cesare Battisti, homicida e terrorista vermelho condenado à prisão perpétua disse De Corato.
O ex-ministro da Justiça italiano Clemente Mastella também entrou na polêmica e fez um apelo aos jogadores brasileiros que atuam na Itália para que intercedam junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a decisão seja revista.
A Associação 2 de Agosto, composta por familiares das vítimas de um atentado a estação de trem de Bolonha, enviou carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva protestando contra a decisão brasileira. No documento, o presidente da organização, Paolo Bolognesi, chama Battisti de assassino sórdido .
- Senhor presidente, o comportamento do seu país nesta situação é desaprovada totalmente por todos os familiares das vítimas do terrorismo - protestou Bolognesi na carta.
Respeito
O presidente Lula, por sua vez, disse nesta qinta-feira não acreditar que a concessão do refúgio signifique uma crise diplomática entre Brasil e Itália. Segundo ele, a Itália pode não gostar da decisão, mas terá de respeitá-la.
Precisamos aprender a respeitar as decisões soberanas de cada país disse Lula em entrevista coletiva concedida em Ladario (MS), na fronteira com a Bolívia. Pode até não concordar, mas tem que respeitar.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tentou evitar comentários sobre a decisão do ministério da Justiça. Questionado sobre o tema em entrevista coletiva realizada ontem, Amorim deu uma resposta curta:
Ele (Tarso) tomou uma decisão que deve ser respeitada afirmou Amorim. Segundo o ministro, o Conare se pronunciou contra o refúgio, mas havia espaço para um recurso do Ministério da Justiça dentro do órgão. E a função do Ministério da Justiça é parajudicial.
Battisti disse a seus advogados que está aliviado com a decisão do ministro Tarso Genro. Para seus advogados, o ex-militante revelou que pretende retomar sua carreira de escritor assim que deixar o presídio, em Brasília.
O advogado de Battisti na França, Eric Turcon, e o senador brasileiro Eduardo Suplicy (PT-SP) disseram que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, interveio pela concessão do refúgio político ao ex-militante italiano. O Palácio Eliseu nega. Suplicy, em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera , disse que Sarkozy e sua mulher, Carla Bruni, conversaram com o presidente Lula pedindo sua intervenção no caso. O casal esteve no Brasil em dezembro.
Com informações de agências