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Polícia recupera obras de arte roubadas há 10 anos

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JB Online

BRASÍLIA - A recuperação de 22 obras entre pinturas e reproduções pela Delegacia de Repressão a Roubo de Cargas (DRRC) do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) revelou uma história que mais parece roteiro de filme. O material foi roubado em 1998 e passou boa parte desse período guardado no forro de uma casa na cidade de Sumaré, na região de Campinas. O autor do crime, J.C., conhecido por 'Jeca', de 37 anos, ficou preso durante quase uma década. A informação é da Assessoria de Comunicação da Deic.

Na cadeia acalentou o sonho de tornar-se milionário vendendo os quadros. Especializou-se no assunto estudando livros e artes no presídio. Ficou solto quase três meses. Voltou a ser preso e os policiais descobriram seu segredo.

- Esses quadros têm uma maldição. Depois que os roubei minha vida nunca mais deu certo - comentou Jeca.

O roubo aconteceu em novembro de 1998. Ele e o primo E.l.D.R. receberam informações sobre a coleção de quadros guardados em um compartimento secreto dentro de uma mansão em Vinhedo. A casa pertencia a um joalheiro. O plano era entrar na residência no feriado de Finados, quando não haveria ninguém. Mas o proprietário, de 86 anos, não viajou. Ele foi dominado e teve de assistir o roubo da coleção composta de autores renascentistas europeus ainda não identificados - e contemporâneos como Gino Bruno, David Barbosa, A. Burti e Nelson Nóbrega.

C. acreditou que os quadros valiam muito. Depois de insistir para que o joalheiro revelasse o valor das obras; o assaltante, com raiva, jogou uma pintura no chão.

- Quando vi o dono se ajoelhar e tratar o quadro como se fosse uma criança senti que aquilo valia muito -lembrou.

Na fuga, os dois encontraram carros importados na garagem. Mas não sabiam dirigir veículos automáticos. Optaram por levar um Gol. As obras foram escondidas. C. e o primo aguardavam um momento mais favorável para negociar as pinturas.

C., no início de 1999, envolveu-se em uma confusão. Foi preso e condenado a nove anos de reclusão. Os quadros passaram a habitar seus sonhos. Passou, como comparou, a debulhar as bibliotecas das cadeias onde esteve preso. O alvo era um tipo de leitura: livros sobre artes.

- Li uns cinco mil livros - contabilizou. Ele acredita ter identificado as obras, autores e locais onde foram expostas.

O tempo passou e um novo plano surgiu. Mandou o primo fotografar as obras e produzir um CD. A mídia começou a ser encaminhada a marchand. Uma dessas cópias chegou em março deste ano às mãos de um investigador da DRRC.

- Mas meu primo não conseguiu entender o que era para fazer. Bebia muito. Então falou que esperaria eu sair da cadeia - lembrou.

Nesse período também começou a ter um sonho constante relacionado com uma das pinturas que batizou de Carlos II. É um óleo sobre tela onde aparece um garoto, com idade aparente de 12 anos, loiro.

- O menino começou a me dizer: 'Devolve. Devolve'. Depois o quadro pegava fogo - relembrou.

C. saiu da cadeia em julho. Em outubro foi preso novamente por roubo e seu primo morreu de ataque cardíaco. Os investigadores conseguiram rastrear as informações sobre o CD e quem produziu. Em 24 de novembro, C. deixou o CDP de Hortolândia requisitado pelos policiais do DRRC. Guardou o segredo durante quase 10 dias. Ontem resolveu revelar o local onde estavam as obras.

- Era como uma maldição. Acho que a alma do dono não descansava em paz. Quando vi os quadros aqui na delegacia foi como se eu tivesse tirado um saco de cimento dos ombros. Estou mais leve - disse. Apesar do tempo passado, ele responderá pelo roubo.