Marina Mello, Portal Terra
BRASÍLIA - A "lei seca dos cigarros", um projeto que proíbe o motorista de dirigir fumando, está em tramitação na Câmara dos Deputados. Apesar das críticas que acompanham a idéia, para o autor da proposta, deputado Dr. Talmir (PV-SP), o momento atual de grande repercussão em torno da queda de acidentes provocada pela lei seca torna propícia a aprovação do projeto que proíbe o cigarro para quem está ao volante.
- Quando o projeto da lei seca foi aprovado na Câmara, nem nós acreditávamos que iria dar tão certo. O mesmo pode acontecer com a lei que proíbe o cigarro - disse.
O deputado, que também é médico, explica que a proibição iria reduzir o número de acidentes porque, segundo ele, o motorista que fuma inevitavelmente acaba se desconcentrando porque sempre precisa procurar o isqueiro para acender o cigarro e ainda bater as cinzas que muitas vezes voam e queimam o estofado do veiculo.
- Muitos acidentes já foram provocados por causa disso. O fumante se desconcentra o coloca a vida dele e de outras pessoas em risco - explica.
Além disso, ele ressalta o aspecto ambiental da medida, já que, de acordo com o parlamentar, quase ninguém apaga o cigarro e deixa a ponta dentro do carro para depois jogá-la no lixo.
- O motorista fumante provoca boa parte das queimadas de beira de estrada em período de seca e mesmo que isso não aconteça, uma bituca leva anos para se decompor.
O deputado explica que, como a atual legislação obriga o motorista a dirigir com as duas mãos no volante, o projeto apresentado foi em caráter conclusivo, ou seja, não precisa ser votado no Plenário da Casa para virar lei.
Ele foi protocolado na Mesa Diretora e vai passar por três comissões (de Transporte, Seguridade Social e Justiça e Cidadania). A idéia é que depois disso o código de trânsito seja mais claro e estipule a punição específica para o cigarro.
Mas no decorrer de toda a tramitação, o projeto deverá ser alvo de críticas de diversos setores, conforme prevê o próprio autor da proposta.
- Certamente, a Câmara ficará lotada de lobistas da indústria de cigarros, mas pretendo combatê-los para aprovar a matéria - afirma ele.
Entre as pessoas ouvidas pela reportagem, as opiniões estão divididas.
- A idéia é absurda, chega a ser ridícula. Não dá nem pra imaginar um guarda me multando por causa de um cigarro - critica o estudante Marcelo Cordeiro, que é fumante.
Já o publicitário Marcelo Bressan apóia a idéia.
- Uma vez estava dirigindo ao lado de um senhor que fumava quando bateu um vento e a brasa do cigarro caiu no colo dele - diz.
O especialista em trânsito Paulo Cézar Marques, professor de engenharia da Universidade de Brasília, demonstra preocupação com o projeto de lei.
- Como o código de trânsito já proíbe que se dirija com uma mão só, meu medo é que fiquemos obrigados a especificar tudo, tipo: não pode fumar, não pode comer, etc - pondera.
De acordo com ele, o ideal seria o governo primeiro bancar uma campanha explicando os riscos em torno de se dirigir fumando para depois começar a multar aqueles que insistirem em fumar dirigindo. Ao ser questionado sobre como seria chamada a lei entre a sociedade, o professor diz em tom de brincadeira: - seria a lei seca do cigarro ou a lei anti-fumaça.