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XINSHI, CHINA - Desperados e desamparados, os chineses afetados pelo terremoto em Xinshi, no sudoeste do país, acampavam sob barracas maltrapilhas diante de casas destruídas, reclamando que o governo as abandonou. Três dias depois do tremor de magnitude 7,9 afetar a província de Sichuan na segunda-feira, com número de mortos podendo passar dos 50.000, a China levou 130.000 soldados e policiais para áreas afetadas para distribuir ajuda e buscar sobreviventes em meio a inúmeras cidades destroçadas.
A massiva operação de resgate mal chegou a Xinshi, embora a cidade fique a apenas 30 minutos de uma estrada na qual comboios militares carregam suprimentos para as regiões prejudicadas.
- Não temos dinheiro para sobreviver, não podemos comprar nada. O que vamos fazer com nossas crianças? - reclamou Zhang Fuyang, do lado de fora do abrigo que construiu com uma estrutura de madeira e lençóis de plástico. - Ninguém nos disse nada - acrescentou.
Xinshi, uma pequena comunidade rural cercada de montanhas, é um dos milhares de vilarejos reduzidos a ruínas nos vales ao norte de Sichuan.
O acesso a muitos desses lugares continua interrompido por deslizamentos de terra e estradas destruídas, o que atrasa a chegada de ajuda e deixa os moradores se sentindo abandonados.
- Alguns soldados vieram aqui ontem. Mas não vimos ninguém desde então - disse Zhang Gongchuang, enquanto sua mulher dormia numa barraca e as crianças jogavam baralho.
No mesmo prédio em que morava Zhang, estava uma clínica médica vazia. Ninguém tem certeza de quantas pessoas morreram.
- Não temos equipes médicas aqui desde que meu pai morreu - disse Zhang. - Não temos energia elétrica e não sabemos quando ela vai voltar -
As esperanças de sobrevivência diminuem para as cerca de 25 mil pessoas que ainda estão soterradas nos escombros da região. Na quinta-feira, o Partido Comunista pediu que as autoridades "assegurem a estabilidade social" em meio à enorme frustração das dezenas de milhares de desabrigados.
Na beira da estrada que leva ao condado de Beichuan, onde mais de 7 mil pessoas morreram, moradores desesperados seguravam cartazes de papelão para os comboios militares que passavam, dizendo: "Não temos lugar para morar. Queremos sobreviver".
Os voluntários que paravam para entrar comida e garrafas de água eram cercados por uma multidão.
Em Anchang, no entanto, a comida era vendida nas ruas.
A rádio estatal pediu que os refugiados não bebam água de qualquer lugar nem roubem os suprimentos de ajuda.
Zhang Gongchuang, vasculhando os destroços de sua casa, tinha outras preocupações.
- Mesmo se tivermos comida, como vamos prepará-la? Não temos faca. Como vamos comer? - perguntou.