Agência EFE
BRASÍLIA - O ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, defendeu, durante o 60º aniversário da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que é preciso pensar em um futuro para a região que não priorize apenas o lado econômico, mas também o moral.
Fenando Henrique participou, ao lado dos ex-presidentes: Ricardo Lagos (Chile), Julio María Sanguinetti (Uruguai) e José María Figueres (Costa Rica) de uma mesa-redonda sobre o desenvolvimento da região, onde se falou desde a antiga teoria do desenvolvimento interno e da substituição de importações, até o crescimento com eqüidade e desenvolvimento sustentável.
O discurso do sociólogo brasileiro coincidiu com o do intelectual francês Alain Touraine que reforçou a necessidade de enfocar também a moral e os direitos humanos na região.
- O enfoque não pode continuar mais como temos feito até agora, no qual o desenvolvimento é visto apenas como conseqüência do econômico. Ele deve ser visto também como fruto da moral - disse o intelectual, acrescentando que "os direitos humanos são um elemento fundamental para as sociedades que querem se inserir em um contexto global".
Touraine observou ainda que a visão de desenvolvimento hoje em dia também não pode continuar sendo regional e sim seguir a lógica global, porque há uma intercomunicação econômica muito forte entre diversos atores.
Fernando Henrique observou, nesse sentido, que embora o Brasil esteja alcançando destaque em nível mundial, persistem problemas graves como a desigualdade e a pobreza.
Alain Touraine, em uma extensa e pormenorizada exposição, assinalou que hoje, mais do que nunca, a América Latina tem a necessidade de inventar seu futuro, que a integração ao mundo não significa repetir o de sempre e que o resultado a ser atingido dependerá da forma como se decida atuar.
Touraine se referiu a alguns países como o Brasil e o Chile que cresceram com umas das piores distribuições de renda, enquanto assinalou que a Venezuela, ao contrário da Cuba de Fidel Castro, não depende dos países da velha Europa socialista, mas do poderio derivado do petróleo.
O ex-presidente da Costa Rica, José María Figueres, por sua vez, defendeu a tese de Touraine, de que o mais importante do desenvolvimento econômico são os fatores não econômicos como a consciência nacional, os valores e a participação dos cidadãos.
Nas comemorações de seu 60º aniversário, a Cepal reforçou seu compromisso de impulsionar o desenvolvimento e ajudar a América Latina a enfrentar os desafios atuais.
- Esse encontro é um momento de reflexão sobre o desenvolvimento na América Latina e no Caribe frente aos desafios do mundo contemporâneo e sobre a atualidade das mensagens da Cepal em uma região complexa que enfrenta desafios cada vez maiores - declarou o secretário-executivo do organismo José Luis Machinea.
Também estiveram presentes no Seminário "60 anos da Cepal: Visões da América Latina e do Caribe", os últimos cinco ex-chefes da Cepal, assim como quatro ex-presidentes e acadêmicos de vários países.
- Propusemos idéias e caminhos para o desenvolvimento econômico e social dos países da América latina. E não esquecemos nunca que esse desenvolvimento, que deve ser liderado pelos próprios Governos dos países da região, tem como único objetivo o bem-estar material e espiritual de todas as pessoas, mulheres e homens, que vivem nesta parte do planeta - ressaltou Machinea.
O ex-presidente do Brasil acrescentou que "a Cepal conseguiu organizar o pensamento da América Latina" e acrescentou que o organismo das Nações Unidas "foi fundamental" para os países da região.
Por sua vez, o ex-secretário-executivo da entidade, o colombiano José Antonio Ocampo, disse à Agência Efe que a Cepal foi "fonte da inspiração econômica da região e condutora de uma série de debates que inspiraram muitas das mudanças, após um período de predominância da ''ortodoxia econômica".