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MACEIÓ - Em entrevista à revista Veja desta semana o usineiro João Lyra, desafeto político do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), confirma que manteve uma sociedade com o senador e que usou "laranjas" para comprar empresas de comunicação a pedido do parlamentar. Segundo a revista, Lyra e Calheiros tinham uma sociedade montada para comprar uma emissora de rádio e um jornal em Alagoas, que mais tarde deu origem à JR Radiodifusão.
Calheiros teria investido R$ 1,3 milhão no negócio, parte paga em reais, parte em dólares. Nada disso - a origem do dinheiro, a sociedade, a rádio, o jornal - foi declarado pelo senador à Receita Federal ou à Justiça Eleitoral. Em 2005, a sociedade entre Lyra e Calheiros foi desfeita, mas o parlamentar, diz a revista, continuou com as empresas de comunicação.
A Veja mostra que a JR Radiodifusão, que tinha Carlos Santa Ritta, um assessor de Calheiros no Senado, como sócio-laranja, passou a ser controlada pelo primo, Tito Uchôa, e pelo filho do senador, Renan Calheiros Filho, o Renanzinho. A partir de então a empresa teria recebido quatro outorgas do Ministério das Comunicações.
A última, que autoriza a JR a operar uma rádio FM na cidade de Água Branca pelos próximos dez anos, foi assinada na semana passada pelo próprio Renan Calheiros. No cadastro da Anatel, a agência reguladora das telecomunicações, a JR ainda pertence a Tito Uchôa e Carlos Santa Ritta, os laranjas iniciais do senador. Renanzinho não aparece como proprietário.
A matéria da Veja diz ainda que, quando ainda era sócio de Calheiros, Lyra colocou à disposição do senador um jatinho e um helicóptero da frota de uma de suas empresas, a LUG Táxi Aéreo. De acordo com planilhas, o senador usou as aeronaves 23 vezes, gerando gastos de mais de R$ 200 mil. Nada teria sido pago por Calheiros, mesmo tendo sido usados pelo senador para levar colegas, ministros e senadores a atividades políticas em Alagoas e também a eventos sociais.
As despesas teriam sido contabilizadas em nome das usinas Laginha e Taquara, ambas pertencentes a João Lyra. Nem o senador e nem a sua assessoria foram localizadas para comentar a reportagem da revista. Durante a semana passada, no entanto, o presidente foi à tribuna da Casa e negou as acusações.
O senador usou a tática ainda de atacar a revista, dizendo que a transação da editora Abril com a Telefônica foi realizada ilegalmente. O negócio foi aprovado pela Anatel. Calheiros já responde a um processo no Conselho de Ética do Senado por suspeitas de ter usado um lobista para pagar suas contas pessoais. A Mesa Diretora também enviou ao colegiado outra representação, dessa vez para investigar o favorecimento de Calheiros à empresa de bebidas Schincariol.
A oposição também protocolou uma terceira representação, pedindo investigações referentes a denúncias do uso de "laranjas" para comprar emissoras de rádio.