com a BBC Brasil, Agência JB
BRASÍLIA - Os países devem eliminar a pobreza no campo se quiserem combater o trabalho infantil, disse nesta terça-feira a Organização Mundial do Trabalho (OIT).
A agricultura, atividade em que estão duas de cada três crianças que trabalham, é neste ano o foco da campanha da OIT, no Dia Mundial contra o Trabalho Infantil.
Cinco organizações, entre as quais a própria OIT e sua equivalente das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), se uniram para tentar encontrar maneiras de erradicar o trabalho infantil agrícola.
Em nota à imprensa, o subdiretor-geral de Agricultura e Proteção de Consumidor da FAO, José Maria Sumpsi, disse:
"É simplesmente inaceitável que 132 milhões de crianças entre 5 e 14 anos se vejam forçados a trabalhar a terra todos os dias, às vezes em condições insalubres e perigosas."
"A única estratégia válida contra o trabalho infantil é reduzir a pobreza nas áreas rurais dos países em desenvolvimento. Para isto, é preciso oferecer oportunidades de renda, segurança e salubridade nos trabalhos agrícolas, melhorar o manejo de pesticidas e garantir o desenvolvimento sustentável."
Estimativas internacionais dão conta de que o trabalho infantil responde por um terço da mão-de-obra agrícola.
Mais do que a exploração infantil, a presença de crianças nos campos significa que elas não freqüentam a escola.
Este é um dado crucial para a OIT, que considera aceitáveis trabalhos "leves", que não prejudiquem a formação e a saúde da criança, a partir dos 12 ou 13 anos de idade.
Nestes casos, o trabalho infantil pode ser visto como parte do aprendizado da criança dentro de seu modo de vida rural.
O problema é que a agricultura, junto com a mineração e a construção civil, está entre os trabalhos mais perigosos mesmo para um adulto.
Um breve relatório da organização chama atenção para o fato de que as meninas cumprem uma dupla jornada de trabalho, realizando tarefas domésticas como cozinhar e cuidar da família, o que reduz ainda mais o seu tempo de lazer.
Mas as organizações notaram que houve avanços nos últimos anos, sobretudo nos países pobres.
Em um relatório divulgado em 2004, a OIT demonstrou que o número de crianças trabalhadoras havia caído 11% no mundo entre 2000 e 2004.
Incluindo as crianças que trabalham na agricultura e fora dela, a entidade calcula que o número de crianças trabalhadoras se reduzira de 246 milhões para 218 milhões.
Liderada pelo Brasil e pelo México, a região da América Latina e Caribe foi a que mais viu sua população de crianças trabalhadoras diminuir de 16% das crianças para 5%.
No caso do Brasil, o número de crianças entre 5 e 15 anos que trabalham caiu de 3 milhões em 2000 para 2,2 milhões em 2004. A idade mínima para trabalho no Brasil é 16 anos.
Para a OIT, programas brasileiros como o Toda Criança na Escola, o Bolsa Família e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) são exemplos de iniciativas que, a partir dos anos 90, incentivaram as crianças, e suas famílias, a trocar o trabalho pela sala de aula.