INFORME JB
Depois da queda, o coice
Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 22/09/2021 às 18:13
Logo na abertura de seu discurso – o 3º em dois anos e nove meses – na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas, às 11 horas de ontem, o presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, advertiu:
“Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”.
E desfilou, por 12 minutos, um chorrilho de mentiras e meias verdades. Desta vez errou menos nos números – chegou a corrigir o exagero que alardeou (na “live” de 2020, quando disse que o Brasil tinha distribuído quase US$ 1 mil a cerca de 68 milhões de brasileiros através do Auxílio Emergencial). Na ocasião, observamos aqui no JB, que os valores, em dólar de R$ 5,4440 de 21 de setembro de 2020, estavam inflados, ou superfaturados, em 23% sobre os valores efetivamente pagos.
Agora, corrigiu o Auxílio Emergencial, que vigorou de abril a agosto na média de R$ 600 por cabeça e nos meses de setembro a dezembro caiu para R$ 300. Ou seja, simplificando, foram 7 meses de R$ 600. Total de R$ 4.200 pagos em 2020. Ao dólar de R$ 5,25 do dia 20 de setembro de 2021, daria os US$ 800 que mencionou na tribuna da ONU [pagos a 68,269 mil brasileiros].
Ao se corrigir, mentiu de novo. É que ele estava visando falar “verdades” (diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões) não para o público planetário, mas para o seu mundinho particular de fiéis seguidores que acreditam mais em suas palavras quando elas são endossadas pelas redes de robôs, jornalistas amigos, ou pelos pastores de igrejas evangélicas aliadas. Pelo dólar de 21 setembro de 2020, seriam apenas US$ 772. Na ONU, a informação parecia que era uma ajuda mensal (nos Estados Unidos foi de mil dólares por cabeça, ao mês; mas aqui era o somatório do ano de 2020).
Acontece que já estamos no fim do nono mês de 2021 e o Auxílio Emergencial encolheu este ano para R$ 250 (numa família sem filhos, cai a R$ 150; em outra com mais de dois filhos, sobe para R$ 375). Fiquemos com a média de R$ 250 mensais, paga desde julho. Seis meses a R$ 250 darão um total de R$ 1.500 por pessoa. Ao dólar de R$ 5,28 (hoje, 22 de setembro) seriam apenas U$ 284. Ou seja 35,51% do valor anunciado da tribuna da ONU.
Mas o total de beneficiários encolheu para 56,828 milhões, segundo o Ministério da Cidadania. Ou seja, Bolsonaro prometeu dizer verdades e veio com mais “fake news”
Entretanto, o ditado que diz que a mentira tem pernas curtas nem precisou esperar 24 horas para a estratégia de marketing de “vender” um Brasil risonho e franco, com ‘controle’ da pandemia, uma economia resiliente e que atrai investimentos, caísse por terra. Às 19 horas (horário de Brasília) vazou a informação de que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga - que estava na comitiva e interagiu com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e com auxiliares do presidente americano, Joe Biden - testara positivo para covid.
A notícia desandou de vez o canhestro esforço do governo Bolsonaro de mostrar que o Brasil é um país confiável. Bolsonaro já tinha chegado a Nova Iorque sob desconfiança total por não tomar vacina (e renegou a vacina enquanto Boris Johnson louvava a excelência da AztraZeneca, embalada no Rio pela Fiocruz). O fiasco total se completou quando o ministro da Saúde pegou covid e terá de cumprir 14 dias de quarentena em caro hotel de Nova Iorque. Às expensas do contribuinte brasileiro. Quantas vacinas e auxílios emergenciais serão consumidos ao fim e ao cabo (fora avião especial)?
Em Portugal há um velho ditado de que o mau ginete, aquele que maltrata a montaria, provoca a reação do animal que não se contenta em corcovear até derrubá-lo, e depois da queda do mau peão, vinga-se com um coice.
Os “Paralamas do Sucesso”, de Herbert Viana&Cia, gravaram uma música que tem esses versos como refrão “Depois da queda, um coice”.
Quem levou o coice desta vez foi o povo brasileiro, cujo orgulho está no chão.
Seria cômico se não fosse trágico
Mesmo que não tivesse ocorrido o desastroso contágio de covid-19 pelo ministro da Saúde Marcelo Queiroga, quem o Brasil pensa que convenceria no estilo da prestação de contas de números da economia?
A fala de Bolsonaro no púlpito da ONU parecia uma “live” como as feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para uma plateia selecionada por um banco de investimento. [se fosse uma apresentação para banqueiros e economistas de bancos, já seria uma ingenuidade). Esses profissionais estudam a fundo um país (ou uma empresa) e veem todas as facetas dos números. Mas levam em conta também os aspectos ESG, ou seja, respeito a normas socioambientais e de governança corporativas. E aí as notas do Brasil são de reprovação.
Socialismo de ocasião
Uma das coisas mais estapafúrdias ditas por Bolsonaro na ONU foi de que quando assumiu o Brasil, em 1º de janeiro de 2019, “o país estava à beira do socialismo”.
Se ele se referia ao governo Dilma, vale lembrar que ela foi afastada, pela instauração do processo de “impeachment”, em 12 de maio de 2016. Foi substituída, desde então, de forma interina, pelo vice-presidente Michel Temer. Que se tornou presidente de direito em 31 de agosto de 2016.
No mínimo incongruência ou ingenuidade, pois foi o mesmo Temer que salvou Jair Bolsonaro de ameaça de “impeachment”, depois da fracassada tentativa de golpe e ameaças contra o Supremo Tribunal Federal, em 7 de setembro, ao redigir a “Declaração à Nação”, que Bolsonaro assinou mudando uma ou duas palavras. Então ele assinou um texto de um “socialista”.
Rescaldo do 7 de Setembro
Os gráficos de novos contágios do Ministério da Saúde são assustadores e não dá para não fazer relação entre o recrudescimento dos casos e a movimentação desenfreada, sem máscaras, dos apoiadores, na maioria dos casos, seguindo a orientação do presidente da República, que se recusa a usar a proteção (sem falar na vacina).
O Departamento de Estudos Econômicos do Banco Itaú, que criou um grupo só para acompanhar a pandemia no Brasil e no mundo, devido a seu impacto na economia e na vida das nações, assinala números alarmantes: “a média móvel de sete dias de casos é de 34.463 (até 127% de aumento contra uma semana atrás, + 76% contra duas semanas atrás e + 17% contra 30 dias atrás).
Ontem, 3ª feira, 21 de setembro, completaram-se 14 dias, ou duas semanas, desde a movimentação do 7 de Setembro. Queiroga, aliás, acompanhou Bolsonaro nos palanques de Brasília e São Paulo. Com o repique das manifestações contrárias ao governo (e escanteadas pelos partidos de esquerda), dia 12, pode-se temer repique de contágios que levam a mortes.
Comemorar o quê?
Antes de embarcar de volta ao Brasil, Jair Bolsonaro prometeu comemorar os mil dias de governo, que completa no dia 28 de setembro. Até ontem, 21 de setembro, o Ministério da Saúde, sob comando interino, informou que o país acumulou 591.440 mortes pela Covid-19. Mas os casos de contágio voltaram a crescer muito e as mortes acumuladas podem chegar a 600 mil no dia 28.
O presidente, que já disse são ser coveiro, não acenderá velas a defuntos.
Ciro inova com política e cerveja
Cerveja sempre foi companhia de sambistas. Que o diga Zeca Pagodinho. Mas agora o ex-ministro Ciro Gomes, candidato do PDT a 2022, está adotando a reunião política em torno da cerveja. Nesta 6ª feira, a partir das 18 horas, ele vai reunir adeptos no Tijuca Tênis Clube em torno da gelada “Cirão da Massa”, uma cerveja tipo “pilsen” fabricada em sua terra natal (Sobral-CE).
De quebra, será celebrada a filiação ao PDT do delegado de polícia civil do RJ, Orlando Zaccone.
Apoio às mulheres
Agora é Lei: mulheres mastectomizadas - submetidas a cirurgia para remoção de mama por causa do câncer ou outra doença - terão direito a fisioterapia de reabilitação na rede pública de saúde do Estado do Rio de Janeiro.
É o que garante a Lei 9.410, publicada nesta quarta-feira (22), no Diário Oficial do Estado, que foi proposta pela deputada Tia Ju (Republicanos) e aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).