INFORME JB

Por Jornal do Brasil

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INFORME JB

Diplomacia de pária não serve contra a Covid

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Por GILBERTO MENEZES CÔRTES, [email protected]
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Publicado em 20/01/2021 às 13:28

Alterado em 20/01/2021 às 13:28

Ernesto Araújo Marcelo Camargo/Agência Brasil

A estratégica política diplomática do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fiel seguidor de Donald Trump (quem era mesmo?), transformou o Brasil em pária bem mais cedo do que o chanceler imaginava.

Em outubro, com a 2ª onda da Covid-19 recrudescendo em todo o mundo, impulsionada pela nova cepa do coronavírus, a Índia, maior produtor de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA) do mundo, autointitulada a “Farmácia do Mundo”, propôs na Organização Mundial do Comércio (OMC) a suspensão temporária das patentes sobre suprimentos para o combate à Covid-19 – incluindo os imunizantes.

Acompanhando os Estados Unidos de Trump, a União Europeia e o Japão, o Brasil votou não. Rachou o BRICS. No bloco formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, só nós fomos votos discordantes.

No Brasil, que desleixou na procura de contratos de fornecimento de vacinas (de resto, desdenhadas pelo presidente Jair Bolsonaro), as únicas vacinas aprovadas pela Anvisa, para uso emergencial - a da CoronaVac, envazada no Brasil pelo Butantan, e a da AztraZeneca (pelo Fiocruz) - são provenientes de China e Índia, os maiores produtores mundiais de IFA.

Para contornar a irritação dos parceiros dos BRICS, que têm a maior produção de vacinas, com exceção da África do Sul, o Brasil mudou a posição na OMC e já admite a suspensão temporária das patentes de vacinas, originalmente propostas por Índia e África do Sul. Vale lembrar que foi o Brasil, por insistência do então ministro da Saúde José Serra (PSDB) que a OMS quebrou as patentes para remédios contra o HIV. Ou seja, o Brasil de hoje entrava em contradição com si mesmo.

A esperança é de que isso mude a posição dos indianos. Para dar prioridade à vacinação interna, iniciada sábado, e o atendimento aos vizinhos, a Índia adiou “sine die” o embarque de IFAs equivalentes a 2 milhões de doses da vacina da AztraZeneca.

Num sutil troco ao Brasil, antes de nos recolocar na fila, o país do primeiro-ministro Narendra Modi, vai dar prioridade aos vizinhos. Com isso, o Brasil depende agora 100% dos IFAs da China. E o Fiocruz já indicou que só poderá produzir vacinas em março.

Ou seja, a mal iniciada campanha de vacinação pode ficar só na 1ª fase: profissionais de saúde e pessoas idosas em asilos.

Farmácia popular da Índia atende os vizinhos

"A Farmácia do Mundo entregará para superar o desafio do Covid", disse hoje o ministro das Relações Exteriores, S. Jaishankar, no Twitter, acrescentando que os primeiros lotes de vacinas (sempre o dobro das populações, devido às duas doses) chegaram nesta 4ª feira ao Butão (820 mil habitantes) e às Ilhas Maldivas (520 mil habitantes).

Seu ministério disse na 3ª feira que "suprimentos sob assistência de subvenção" seriam enviados para Bangladesh (162,4 milhões de habitantes), Nepal (28,5 milhões), Mianmar (53,7 milhões) e Seychelles (97 mil habitantes) também.

Os carregamentos para o Sri Lanka (22 milhões), Afeganistão (37,2 milhões) e Ilhas Maurício (1,3 milhão) aguardavam liberações regulatórias.

O Brasil, por enquanto, não está na fila dos clientes prioritários.