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Eleito terá diculdade para aprovar temas polêmicos

Com as bancadas divididas, Congresso será um desafio para o novo presidente

Agência Senado -
Na previsão do diretor do Diap, Carlos Augusto Queiroz, o novo presidente enfrentará problemas nas negociações com o Congresso
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Tão dividido quanto tem sido o debate político na sociedade brasileira, durante a corrida eleitoral, será o novo Congresso. Na Câmara e no Senado, que registraram elevado índice de renovação, o resultado das eleições foi de crescimento nas pontas do espectro ideológico e de redução dos partidos identificados com o centro.

“Seja qual for o presidente que ganhe as eleições no segundo turno, terá muita dificuldade para aprovar as matérias mais polêmicas, como emendas constitucionais”, avalia Carlos Augusto Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Ele cita a reforma da Previdência e a suspensão da PEC do teto dos gastos, presentes na proposta de campanha de Jair Bolsonaro (PSL) e de Fernando Haddad (PT), respectivamente.

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Na previsão do diretor do Diap, Carlos Augusto Queiroz, o novo presidente enfrentará problemas nas negociações com o Congresso (Foto: Agência Senado)

Na Câmara, os partidos de direita cresceram e devem totalizar 264 deputados a partir de 1º de fevereiro. Em menor proporção, cresceu também o número dos partidos que tradicionalmente votam temas mais ligados ao pensamento da esquerda, que somarão 153. O centro sentiu a perda de parlamentares de partidos como MDB e PSDB.

Esse panorama pode mudar, uma vez que a chamada cláusula de barreira, que atingiu 14 dos 35 partidos nessas eleições, pode promover a dança das cadeiras logo no início da legislatura. Por elegerem um número pequeno de parlamentares, esses partidos perdem o direito a tempo de TV na propaganda política, segundo a cláusula de barreira.

O novo Congresso será também diverso, com a presença de distintos perfis sociais, como a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena na Câmara ou Fabiano Contarato (Rede-ES), que chegará ao Senado representando a categoria LGBT, algo inusitado na história. Se de um lado lideranças de movimentos sociais tradicionalmente ligados à esquerda conquistaram o voto da maioria, há também ultraconservadores como o ex-ator pornô Alexandre Frota (PSL-RJ) e outros 51 deputados do partido do candidato Jair Bolsonaro que conquistaram mandatos, muitos sem histórico político, suportados pelo discurso de defesa dos valores da família e da propriedade.

O cientista político Paulo Kramer (UnB) observa que as mudanças verificadas no perfil do parlamento brasileiro já se ensaiavam na controversa disputa eleitoral de 2014. Naquele ano que sucedeu as manifestações de julho de 2013, já era visível o desejo de mudança, mas as opções que se apresentavam não eram suficientemente conhecidas para ganhar o voto do eleitor. Foi dali que emergiram os deputados agora eleitos Kim Kataguiri (DEM-SP), líder do Movimento Brasil Livre, identificado com a ala da direita, e a feminista Sâmia Bomfim (PSol-SP), ligada a movimentos sociais da esquerda.

“De início, o descontentamento era difuso, sem lideranças nacionalmente conhecidas, vagamente dirigido contra corrupção, baixa qualidade dos serviços públicos, como transportes, saúde e educação, chamando atenção da opinião pública e das autoridades para o contraste entre escolas e hospitais ‘detonados’ e a fortuna que estava sendo gasta nos estádios da Copa do Mundo”, recorda Kramer.

Foi ali também que o candidato ultraconservador Jair Bolsonaro (PSL-RJ), até então um deputado sem força no parlamento, angariou adeptos, tanto assim que, na nova Câmara, seu partido contará com uma bancada de 52 deputados, a maioria integrante da chamada bancada da bala.