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A última cartada dos tucanos

Lideranças e intelectuais do PSDB tentam atrair eleitores na reta final da corrida para o Planalto

Pedro de Paula/AE -
Alckmin, em Recife, destacou que "a situação do Brasil é grave do ponto de vista econômico"
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O clamor pela convergência em direção ao centro na corrida presidencial voltou à tona ontem, com a publicação de duas cartas aos eleitores. A estratégia, que havia sido testada sem sucesso na pré-campanha, é apresentar previsões catastróficas caso se confirmem os prognósticos das pesquisas eleitorais com a polarização entre partidos colocados nos extremos, com o candidato Fernando Haddad (PT) à esquerda e Jair Bolsonaro (PSL) à direita.

O problema consiste no fato de que o apelo soa como rezar em causa própria, uma vez que assinam os documentos lideranças e intelectuais do PSDB, partido de Geraldo Alckmin, que divide tecnicamente a quarta colocação com Marina Silva (Rede).

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Alckmin, em Recife, destacou que "a situação do Brasil é grave do ponto de vista econômico" (Foto: Pedro de Paula/AE)

Em campanha no Recife, o candidato tucano reforçou o apelo feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Nós não podemos ir para os extremismos, radicalismos, o Brasil perde com isso”. O presidenciável também citou que “a situação do Brasil é grave do ponto de vista econômico. O Brasil tem pressa e não pode errar”.

Assim como aconteceu em junho, ainda durante a pré-campanha, quando FHC liderou o manifesto intitulado “Por um polo democrático e reformista”, que falava de uma “urgente unidade política nas eleições”, nenhum dos candidato identificados com o centro se dispôs a renunciar em prol de Geraldo Alckmin.

Ontem, a escritora Eliana Cardoso publicou um post em sua pagina do facebook, convidando os amigos: intelectuais, professores, profissionais liberais, cidadãos em geral para que ajudem a divulgar o manifesto elaborado por ela com a colaboração do Bolivar Lamounier. O manifesto diz que o “país se encontra diante de uma grave ameaça. Os eleitores, polarizados entre dois apelos radicais, parecem decididos a pautar seu voto pelo medo”.

O texto segue apontando Bolsonaro e Haddad como os elementos causadores da ameaça. “As eleições nacionais, que nos oferecem a chance de recomeçar, parecem dividir os eleitores entre dois candidatos radicais. Jair Bolsonaro, um populista de direita, aparece como resposta ao populismo de esquerda de Lula. Ambos representam uma ameaça para o Brasil e para a América Latina”.

Mais adiante, os dois intelectuais falam diretamente aos demais candidatos de centro, para que abram mão de sua candidatura para que Alckmin possa chegar ao segundo turno. “A tarefa exige que os candidatos do centro, Alckmin, Marina, Álvaro Dias, Amoedo e Meirelles se encontrem e coloquem seus votos a favor do candidato que entre eles tem a maior chance de evitar uma tragédia. No momento este nome é Alckmin”.

Antes de Eliana Cardoso publicar o seu manifesto, FHC havia assinado a “carta aos eleitores e eleitoras”, usando o mesmo tom.

“Nas escolhas que faremos o pano de fundo é sombrio. Desatinos de política econômica, herdados pelo atual governo, levaram a uma situação na qual há cerca de treze milhões de desempregados e um déficit público acumulado, sem contar os juros, de quase R$ 400 bilhões só nos últimos quatro anos, aos quais se somarão mais de R$ 100 bilhões em 2018”, diz FHC na carta.

O ex-presidente chamou de “marcha da insensatez” o cenário atual, que aponta para o encontro dos dois extremos radicais no segundo turno. “Sem que haja escolha de uma liderança serena que saiba ouvir, que seja honesto, que tenha experiência e capacidade política para pacificar e governar o país; sem que a sociedade civil volte a atuar como tal e não como massa de manobra de partidos; sem que os candidatos que não apostam em soluções extremas se reúnam e decidam apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver, a crise tenderá certamente a se agravar”, apelou, sem, no entanto, explicitar Alckmin como sendo a “liderança serena”.