A semana que começa será decisiva na corrida eleitoral, cujo cenário tornou-se ainda mais incerto após o atentado sofrido pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), na última quinta-feira, dia 6. O futuro das campanhas dos candidatos à Presidência também ficou mais imprevisível com a decisão, ontem, do ministro Luís Roberto Barroso, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de restringir a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha petista.
PT e PSL são, até o momento, os partidos apontados por especialistas com maior tendência a permanecerem no segundo turno. As demais siglas trabalham para, nesta semana, reverter a situação.
A consultoria internacional Eurasia divulgou relatório, publicado ontem, pela agência russa de notícias “Sputnick”, no qual aponta crescimento da vantagem de Bolsonaro, que após ser atacado por Adélio Bispo de Oliveira decidiu focar sua campanha nas redes sociais e na presença dos filhos nas ruas, como ocorreu ontem, com Flávio Bolsonaro, que liderou uma passeata na orla de Copacabana. A consultoria elevou as chances de Bolsonaro chegar ao segundo turno, de 60% para 70%.
A Eurasia mantém a perspectiva do enfrentamento entre Bolsonaro e Fernando Haddad, do PT, no segundo turno. Mas calcula que Bolsonaro terá seu índice de rejeição diminuído após o atentado, o que lhe dá vantagem no enfrentamento do PT no segundo turno. A análise, no entanto, sustenta a aposta com o argumento de que “os níveis de identificação do eleitor com o PT estão em alta, os números de Lula são fortes”, o que pavimentaria a estrada para Haddad.
Hoje, o candidato a vice do PT terá encontro com o presidente Lula na Polícia Federal de Curitiba. Sairá de lá provavelmente com a bênção definitiva para ocupar o posto de cabeça na chapa petista, anunciando, na vaga de vice, a comunista Manuela D’avila.
O cientista político Benedito Tadeu César, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul concorda com o prognóstico da Eurásia. “Penso que, sem novos graves acontecimentos, Haddad será confirmado como candidato e passará ao segundo turno”, diz o cientista.
O caminho a ser trilhado por Haddad foi dificultado ainda mais pelo TSE, depois que o ministro Barroso sentenciou que a coligação “O Povo Feliz de Novo” e Lula “se abstenham, em qualquer meio ou peça de propaganda eleitoral, de apresentá-lo como candidato ao cargo de presidente”. Em caso de novo descumprimento, a propaganda será suspensa.
Cautela
Para o candidato do PDT, Ciro Gomes, o atentado a Bolsonaro não mudará sua forma de fazer campanha. “Aquilo que aconteceu é uma coisa que deve se repudiar fortemente. Mas nós precisamos ir para rua e fazer força para que a disputa política seja de ideais e nunca de violência, de prepotência”, disse.
Apesar da cautela do pedetista, é praticamente inevitável um maior acirramento entre sua campanha e a de Marina Silva (Rede), já que ambos disputam a possibilidade de chegar ao segundo turno. Aproveitando o episódio de Bolsonaro, Marina enfatizou seu discurso pela paz e contra a liberação do porte de armas: “Se aquela pessoa tivesse uma arma de fogo na mão, o que teria acontecido (a Bolsonaro)? Quem nos defende da violência é o amor”, declarou a candidata.
Já Geraldo Alckmin (PSDB), que repetiu diversas vezes que a eleição só começaria após o 7 de setembro, terá suas expectativas prorrogadas por causa das incertezas geradas pelo atentado. Enquanto Bolsonaro insiste no gesto das armas em punho, Alckmin arriscou dar uma trégua ao rival e suspendeu vídeos e áudios que mostravam Bolsonaro agredindo mulheres e pregando a violência. “Alckmin foi o maior atingido pela facada”, observa Tadeu Cesar, ao lembrar que o tucano disputa com Bolsonaro eleitores do mesmo espectro ideológico e está se debatendo para rever a suas estratégias.