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Uma luta sem ideias

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Os principais grupos políticos, não exatamente partidos, aqueles entendidos como donos das mais poderosas bancadas na Câmara e no Senado, engalfinham-se nos bastidores, outras vezes pela imprensa, provocando dissidências ou acordos artificiais, com o objetivo de garantir o comando das mesas diretoras e das comissões temáticas mais influentes, a começar pelas Comissões de Constituição e Justiça. Ainda agora, um jogo de muitos lances vem dando o deputado Rodrigo Maia como favorito para se tornar presidente reeleito da Câmara, o que não impede que poucas horas sejam suficientes para substanciais alterações no painel eleitoral. O que, se ocorrer, nem pode ser objeto de surpresa nem constituir novidade, pois nas grandes disputas políticas é assim: as coisas amanhecem de um jeito e anoitecem completamente diferentes, ainda que com a possibilidade de, num lance seguinte, tudo voltar ao cenário anterior.

Mas não é esta ainda a questão essencial na campanha dos deputados e senadores candidatos. O que preocupa é que a escolha de novos dirigentes das casas legislativas vem se restringindo apenas a nomes, sem que nela tenha espaço e influência um único projeto de reforma ou aperfeiçoamento das estruturas de poder. A bem dizer, nem mesmo os partidos figuram como peças preponderantes nessa corrida, geralmente citados apenas para ajudar os leitores de jornais a identificar os deputados ou senadores que tomam parte na refrega. Nisto, a futura legislatura, a instalar-se no primeiro dia de fevereiro, em nada difere das que a antecederam. Trata-se, portanto, de uma disputa que prossegue sem a grandeza frente às principais questões nacionais, porque os futuros presidentes terão compromissos com grupos e correntes, contra ou a favor de qualquer coisa de interesses internos. Não há ideias e projetos em discussão, e provavelmente não surgirão nos onze dias que restam para a escolha.

Tratando-se de um dos três poderes que regem os destinos do país, parece nada ter de escandaloso pretender que essa eleição se processe sob a inspiração das posições dos candidatos em relação aos temas que atraem o interesse maior da população. Fala-se que a formação da mesa da Câmara poderia influir no destino da mensagem que trata da reforma da Previdência, mas os aspirantes à presidência ainda não foram capazes de deixar clara essa questão, ainda que indicada como a mais polêmica de todas no próximo período.

Coisas pouco ou mal definidas, como se tem agora, podem ser citadas como um dado a mais para comprometer esse nosso cansado presidencialismo. No sistema parlamentarista, a escolha dos dirigentes do Legislativo, que influem na formação do Gabinete, seria inconcebível que se ativesse apenas a uma corrida em que se medem prestígios pessoais ou grupais. No caso presente, um mínimo de nitidez seria razoável, pelo menos – digamos - em relação aos propósitos já conhecidos do governo Bolsonaro. Também aí o que temos são vagas alusões e apoiamentos reticentes.

Mesmo que passassem ao largo das relações com o Executivo e o Judiciário ou que não se envolvessem nem opinassem sobre matérias àqueles pertinentes, os senadores e deputados que neste fim de semana, em Brasília, intensificam a garimpagem dos votos de seus pares, podiam trazer à sociedade alguma proposta destinada a – pelo menos - apressar a tramitação de projetos nas comissões e em plenário. Peca-se aí pela morosidade. Muitas das proposituras padecem de longos períodos de sonolência, para não citar as que, de tão esquecidas, acabam morrendo naquelas pastas que o tempo vai amarelando. Se se preocupassem com isso já seria um passo.