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Um semestre agitado

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Razões certamente não faltarão para que este semestre se torne um dos mais movimentados do calendário político do país, mesmo que não se leve em consideração a previsão sinistra do ex-ministro Ciro Gomes, para quem o governo Bolsonaro vai implodir, sem condições de romper o segundo semestre. No corpo de uma entrevista a este jornal, na edição de segunda-feira, ele pintou com cores sombrias o futuro imediato da atual administração federal.

Fato é que as semanas que seguem em tudo concorrerão para inovar em áreas diversas, sem que se possa prever se delas resultará muita coisa auspiciosa. Mas, se há um governo recém-empossado, não custa admitir que do presidente Bolsorano sairão algumas iniciativas inovadoras, que o tempo se encarregará de julgar se valeram a pena ou não. Estão neste caso suas primeiras incursões na política externa, delicada área em que ele tenta impor rumos diferentes, sem descartar totalmente o cardápio tradicional: quer aprofundar a convivência com os Estados Unidos, mas pretendendo abrir espaços onde sempre estivemos, porém discretamente, como entrosamentos com Israel e Hungria.

Há expectativas internas, resultantes da promessa de revisão de modelos atuais, como o tratamento dado às comunidades indígenas. Prevê-se uma redução da boa vontade com a demarcação de terras, muitas delas o governo considera de discutível aproveitamento, para que não se repitam casos como o de Roraima, que tem hoje quase metade de seu território sob ocupação das tribos. Também é assunto para ganhar novos rumos até fins de junho, com mínimas chances de passar sem grandes controvérsias. Mexer com os índios, mesmo antes de afetá-los, provoca a excitação das ONGs dos caras-pálidas.

Ainda sob as bênçãos de um semestre de expectativas, certamente estão incluídos os rumos da política do superministro Paulo Guedes, que se afigura como o tema mais complexo, porque afeta a todos os brasileiros indistintamente. Convicto de que a reforma da Previdência há de ser o ponto de partida, capítulo primeiro de tudo que precisa ser feito, ele faz admitir que haverá um esforço político junto ao Congresso, como nunca se viu, em favor de uma inciativa governamental. É o que já bastaria para dar assunto aos encontros e desencontros políticos desta primeira temporada de poder.

E o que prever e dizer sobre o Judiciário? O Supremo Tribunal Federal de certo será o maior polo da atenção pública e dos meios políticos, quando estará decidindo, talvez em abril, se o cumprimento de uma pena de prisão, nas sentenças prolatadas em segunda instância, tem validade antes de se esgotar o último recurso. É uma questão que devia estar solucionada há tempo, sem que a corte consiga explicar seus sucessivos adiamentos, principalmente se se considerar que nessa decisão estará traçada a sorte do ex-presidente Lula. Ele foi para a cadeia pleiteando o aguardo do apelo que, esperançoso, pretendia junto à corte superior. Em torno dele, as expectativas se tornam agora mais amplas, antes de junho, com a previsão de que novos processos, em que é denunciado por suborno e crime de tráfico de influência, podem triplicar seu tempo de cadeia. Considerando-se a idade, a se confirmarem penas mais pesadas, seria, por similitude, espécie de prisão perpétua, tal como a do italiano Cesare Battisti, que ele protegeu enquanto foi presidente.

Aconselhável, portanto, que se reserve bom espaço para tensões e emoções no correr deste primeiro semestre, porque não terá como escapar de discussões e decisões sobre grandes temas; que nem deixarão de ser importantes se acabarem, por conveniência, excluídos da pauta política.