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Guerra ao desperdício

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Mais que uma sugestão, talvez mesmo como um apelo, a Organização das Nações Unidas decidiu dirigir-se aos pequenos e grandes países, a todos os povos em geral, elegendo 2030 como o ano em que terá sido possível reduzir em 50% os desperdícios de produtos alimentícios, setor que, tirante a água, revela-se mais importante que qualquer outra perda, como os materiais de construção e de higiene, estes entre os itens que mais se desaproveitam. A meta é uma prioridade e curto é o tempo para atingi-lo; mas algo realmente tem de ser feito, num planeta em que, todo dia, milhares de toneladas de comidas vão para o lixo, encenando doloroso contraste com as multidões que passam fome, e por isso condenadas a morrer de inanição.

O novo governo certamente não ignora esse apelo, pois já era do conhecimento de seu antecessor. E disso não terá como omitir-se, até porque o Brasil figura entre os países que pecam mais nesse particular. Antes da convocação internacional, já estávamos incluídos na escala dos que perdem cerca de 30% de tudo que se produz na agropecuária e na indústria de alimentação. Em parte porque nunca se cuidou, objetivamente, de uma campanha educativa junto à parcela da população que não passa fome, e que não se sensibiliza diante da perversidade das carências. Como se contenta com o que tem, o que sobra é irrelevante; acaba indo para o lixo.

Diante desse fenômeno, que, como se sabe, não é um constrangimento apenas para os brasileiros, os setores das Nações Unidas empenhados no projeto não querem que se sensibilizem apenas os consumidores, o ponto final do problema; mas, indo além, chegar aos setores produtivos, a fim de que se obtenham resultados mais amplos. Como, por exemplo, cuidar do muito que se desperdiça na maioria das fontes de produção. Entre os primeiros lembrados, o leite e os legumes, que sofrem perdas gritantes, incluindo impostos que deixam de ser recolhidos e a mesa da família, onde chegam mais caros.

Nos países com as características do Brasil, donos de longas extensões territoriais, e nelas diversificada capacidade produtiva, por estas mesmas razões o empreendimento proposto, para que alcance os resultados colimados, exige esforços muito maiores; a começar pela infraestrutura, sempre menos onerosa nos que dispõem de territórios menores.

Ainda não se deu a conhecer como a nova gestão do ministério da Agricultura pretende acudir ao apelo da ONU; até porque não teve tempo útil para planejar algo. Mas é importante que o faça o quanto antes, pois, sob sua regência, estarão várias entre as principais iniciativas. Quanto ao que nos cabe, sem que se saiba se a escala de iniciativas seria a mesma em todos os lugares, é no âmbito daquele ministério que podem ser dispostos os instrumentos governamentais capazes de viabilizar maiores cuidados com a produção, o que exige incluir essa pasta nas políticas de infraestrutura, e defender prioridades no setor de transportes, para bem servir à rede de armazenamentos estratégicos. Os armazéns, colocados nos pontos de intermediação, constituem algo de substancial importância para reduzir as imensas cargas de alimentos que apodrecem, nas viagens entre as regiões produtoras, os intermediários e os consumidores.

Há tempos, por causa das precariedades nesses setores fundamentais, já havíamos sido incluídos entre os mais prejudicados, sobretudo no desperdício de tubérculos. É preciso interromper essa trajetória, que faz mal à economia do país e ao bolso da população.

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editorial | jb | ONU