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Relações com a imprensa

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Quanto mais ocas, mais empenhadas em se esvaziar. É como vão se definindo as relações da Presidência da República com a imprensa, ou por causa de porta-vozes ou por obra e graça de assessores e agentes de segurança destacados para eventos públicos, como agora se viu na posse, em Brasília. Na verdade, não se ficou sabendo, com exatidão, se as graves limitações impostas aos jornalistas, naquele dia, foram da responsabilidade do embrionário setor de comunicação ou do pessoal da segurança; talvez de ambos, animados pela constatação de que o presidente relega a mídia, adepto que é do que chama de “contato direto” com o povo, preferindo os recados eletrônicos.

Ofereceu-se péssimo tratamento a uma instituição básica da ordem democrática, como também aos seus representantes, destacados para dar cobertura à instalação do novo governo, que pode estar confundindo o direito-dever dos órgãos de comunicação com as gentilezas que a Presidência da República concede ou não, de acordo com suas conveniências. Os gestos de descortesia são algo a que não podem estar restritos os jornalistas, lamentavelmente tratados como refugos indesejáveis num acontecimento político longe de ser mero convescote liderado pela presidência. São coisas totalmente diferentes, que convém explicar aos assessores, antes que se repitam fatos deploráveis como o se viu nos palácios. Porque para acontecimentos de natureza político-administrativa, de interesse da sociedade, os jornais e as emissoras de televisão independem de simpatias e dos humores dos governantes da hora. São livres, dispensam convite; e, se comparecem, é para cumprir sua obrigação junto à opinião pública.

As providências tomadas em nome da segurança do presidente e das delegações visitantes, são admissíveis, sem exageros e sem exibicionismo, não se outorgando ao governo o direito de estende os extremos cuidados aos jornalistas, alinhando-os com terroristas ou desordeiros da ordem pública. Menos ainda poderia alimentar dúvidas quanto a esses profissionais, antecipadamente credenciados pelas Redações a que servem, e delas portadores de confiança absoluta.

O governo, nesse episódio, permitiu que se fizesse representar por grosserias, a começar pelos recursos e espaços mínimos para o desempenho de repórteres e fotógrafos, adotando proibições desnecessárias, como conduzir inofensivas garrafas plásticas de água, que a segurança pareceu considerar perigosas armas de agressão. Os brasileiros destacados para essa estressante cobertura ainda tiveram de carregar algo a mais: o constrangimento de ver colegas estrangeiros se retirarem, e, em protesto, desistirem do trabalho, que, para executá-lo, tiveram de voar horas seguidas.

Entre os pretextos para a violência do dia 1º figurou a violência anterior, quando do atentado contra o então candidato. Tudo bem: multidões agitadas, sem possibilidade de controlá-las totalmente, muito menos o imprevisto que delas pudesse surgir; um presidente ainda enfermo, fragilizado e exposto, tudo justificando cuidados; mas nunca a resultar no confinamento da imprensa, como se seus representantes fossem tolerados ali como pessoas altamente perigosas, terroristas camuflados.

Esbanjaram-se excessos; diga-se de passagem que, de tal modo e com tamanha impetuosidade, que o presidente fica a dever uma retratação. Ele, pessoalmente, porque a nódoa não é mais dos agentes, que já se recolheram ao anonimato dos gabinetes e dos quartéis. O governo é que saiu arranhado nas relações com a imprensa; relações que já reclamavam convivência respeitosa; ou, pelo menos, sem maiores animosidades, além daquelas que são naturais e comuns por causa do que os poderes fazem ou deixam de fazer.