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O que pode trazer a Era Bolsonaro?

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A Era Bolsonaro tem diferentes opiniões sobre por onde exatamente ela começa, o que talvez possa se tornar mais claro a partir das próximas semanas, quando às festas e aos discursos formais e protocolares vai se opor a ditadura das realidades. Qualquer presidente é convocado a enfrentá-las, sem concessões partidárias ou ideológicas. É quando as boas intenções e as promessas de campanha têm de sair das pregações para entrar no campo das cobranças. Para tanto, até antecipam-se sinais de naturais e imediatos descontamentos, um dos quais parece que nem se faz esperar: o modesto aumento do próximo salário mínimo, que se avizinhou dos mil reais, mas sem força suficiente para ir um pouco além, foi a notícia de passagem de ano que os sindicatos receberam com frieza. Na rota contrária, a população é informada de que sofrerá reajustes de preços em itens que refletem sobre gêneros alimentícios e utilidades. Porque entre os impulsionadores de carestia e dos protestos, vem o diesel instável, que está e sempre esteve entre os primeiros vilões.

Não se poderia praticar a injustiça de jogar tudo na conta de um governo que apenas dá seus primeiros passos. Mas, não tendo culpa por pecados herdados, ainda assim é sobre ele vão os reflexos e as lamentações, que nunca faltam, bastando que passe o clima de núpcias entre os que acabam de chegar e os que esperam muito.

Quando se estabelecem previsões sobre coisas desagradáveis, ou que se tornam objeto de cobrança popular, em geral o primeiro dos holofotes volta-se para a política econômica, porque é nos seus meandros que se ditam normas capazes de determinar se a população será mais rica ou mais pobre; se o país desenvolve-se ou não; se haverá ou não mais empregos. No novo governo o enfoque ganha maiores luzes, toma-se mais real, porque um só ministro também terá poderes para decidir questões básicas em setores que, sendo da mesma área, até agora gozavam de alguma autonomia. “Isso tudo é com ele”, diz o presidente, referindo-se ao ministro, que não é mais apenas da Fazenda, mas, abrangente, comanda os amplos campos da Economia.

Em fim de festa, chegada a hora de cair no real, o ministro da Economia tem, entre outros colegas convocados a dolorosas jornadas – para citar apenas mais um - o que acaba de assumir a pasta das Relações Exteriores, porque ele entra num jogo pesado, e, pior, com certas regras que já lhe chegam traçadas e peças definidas, restringindo o campo de ação dos instrumentos diplomáticos. As diretrizes que o presidente traçou, baseando-se em convicções pessoais, sem consultas, muito menos opiniões da chancelaria, indicam que o Brasil pode ter caminhado para situações delicadas. Para não distanciar exemplos do momento, considere-se sintomático o nível das delegações enviadas para assistir à sua posse. Tirante Portugal, alguns vizinhos e o chefe de governo de Israel, quem mais de expressão para o protocolo? Nem delegados de nível apropriado dos países que nos deram as maiores colônias, como a italiana e a japonesa. Para não se tomar como referência a singular explicação do presidente argentino, que não veio porque estava descansando.

Já aguardado, mas nem por isso menos grave, o quase total desconhecimento que os países árabes dedicaram à posse do presidente brasileiro serviu para confirmar a reação ao idílio que estamos começando com Israel, o que Bolsonaro acentuou, ao falar de nossa civilização judaico-cristã. Se o discurso desejasse evitar novos ressentimentos bastaria definir essa cultura como cristã, sem buscar origens na Velha Aliança.Mas, como a primeira entre as promessas do novo governo é mudar, renovar, romper com as coisas do passado, o que resta é esperar para ver os resultados.