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Novidades e repetições

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Por que 2019 haveria de ser diferente? Todos os anos, ao se inaugurarem, vêm com a receita das esperanças de sempre; mas também, forçoso lembrar, começam ao embalo de importantes desafios para as lideranças, estejam elas aqui ou em qualquer parte do mundo. Nunca faltaram, como nunca faltarão, momentos de tensão, ameaças de conflitos e abalos na credibilidade dos estadistas que governam os destinos do mundo. Estamos, neste caso, nós, os latino-americanos, depois que se acentuaram divergências entre países que fazem o vestibular da beligerância, embora até então mantivessem estreitas relações. O novo governo brasileiro antecipou sua cota de responsabilidade no esfriamento de amizades, com a atitude inédita de desconvidar, para sua posse, presidentes de países que considera estarem sob regime indesejável, como se fosse razão bastante para as descortesias subcontinentais. Optou por começar sua caminhada pisando em pontos sensíveis, e ainda não revelou se pretende removê-los depois das festas.

Quanto ao Brasil, se outra razão não houvesse para justificar gerais ansiedades em 2019, chegam um novo presidente e outros homens e mulheres influentes, prometendo normas administrativas que se pretendem inovadoras; algo que, como advertem experiências passadas, não se restringem apenas ao desejo dos governantes, mas, sim, sujeitas a situações que, antes, tornam-se reféns de circunstâncias e dos setores que lhes opõem resistência. O presidente logo saberá disso nas primeiras semanas de sua gestão. Porém, antes mesmo de desembarcar em Brasília, já viveu alguns testes para perceber e sentir que desejar não é exatamente poder. Ao inverso, forças há que podem frustrar o que o governo pretende ou promete. Desejável é que Bolsonaro se arme de paciência e capacidade de diálogo, para evitar que eventuais choques e desencontros resultem em problemas mais sérios para as relações institucionais.

Um fator político a preocupar, este igualmente na esfera dos desafios que reclamam prudência e exercício de articulação, é que o governo que vai começar veste-se com roupas e armaduras de uma direita convicta, bastante hostil em relação à esquerda, e desta, em reação, recebendo igual tratamento. De ambos os lados surgem sinais de intolerância, para não aludir desejos de vingança, engasgados desde a campanha eleitoral, quando digladiaram, ferozmente, direitistas e esquerdistas; e com tamanha intensidade, que nem sobrou espaço para quem estava no centro do tiroteio, e nada mais pôde fazer, além de assistir ao seu próprio e retumbante fracasso nas urnas. As feridas não curadas da radicalização, independentemente de os candidatos terem se batido num pleito democrático, sugerem o diálogo custoso, como também eivado do ressentimento dos oposicionistas, que não aceitam ver encarcerado seu líder, um ex-presidente, condenado por alguém que não é mais juiz, mas poderoso ministro da Justiça.

Em determinadas circunstâncias e ocasiões, quando se fizer necessária tolerância política no Congresso, em votações de maioria ampla, velhas sangrias poderão criar dificuldades. Estaria nesse caso, quando chegar a hora, a reforma da Previdência, assunto já previamente condenado à impopularidade, prato cheio para quem for do contra.

Vê-se, pois, que vem chegando um ano que tem tudo para ser como os outros, que passaram e não voltam mais; contudo, deixando um rastro de coisas boas e ruins, para que sejam convenientemente repetidas. Como sempre foi, como sempre será.

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editorial | jb