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Ditadura de prioridades

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A todo governo que se vê frente a escassos recursos financeiros, e essa é a realidade a que quase todos estão condenados, o destino é implacável ao impor o regime das prioridades; estas, mesmo assim, sujeitas ao rigor de uma escala de urgências e emergências. Estaria o mandato do presidente eleito Jair Bolsonaro a salvo desse destino? Certamente que não, por exigência da situação financeira dos cofres da União, onde o dinheiro, que já era pouco, menos ainda ficou com a devastadora marcha da corrupção pantagruélica. Terá ele, portanto, que jogar na peneira os serviços e obras, iniciados ou apenas projetados, para que sobrevivam apenas as necessidades imediatas. Selecionar e escolher. Governar é optar, como definiu o primeiro-ministro Mendés-France, uma das expressões políticas do século passado.

Conhecedor, por vocação profissional, da obsolescência em que se encontram os equipamentos das Forças Armadas, a começar por aí há muito o que fazer logo; e o antigo camarada agora presidente certamente será instado a investir no reaparelhamento e na modernização das armas. Há, nesse setor, em particular, uma fatalidade: um exército, quando sucateado, pouco serve para assumir a defesa da integridade nacional. Ou é muito ou é nada. É outro setor a pedir socorro. A alegação de que, felizmente, não nos acena uma possível guerra, e, portanto, nada a preocupar, é argumento frágil, porque os serviços militares têm também missões internas, como se demonstrou agora com a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.

No setor de transportes os desafios não são menores, porém imediatos. Reclama-se uma escala de prioridades; e a primeira entre elas está na malha rodoviária, onde são raras as estradas que escapam de situação crítica. O novo ministro, Tarcísio Freitas, chega contemplado com a situação agravada: as chuvas da temporada destruíram mais um pouco do que já estava destruído.

Na Educação, a questão primeira nem necessita de grandes dinheiros, mas tem meta a alcançar, sem demora, na superação do impasse entre deveres e direitos, com os educadores conflitando sobre a abordagem de temas políticos e ideológicos. Trata-se de uma discussão delicada, porque, qualquer que seja o caminho adotado, o governo não terá como escapar de ressentimentos e protestos. Mas o presidente eleito já ofereceu o sinal: escolas sem politização. Demais, é na pasta da Educação que o próximo governo promete a mais nítida virada à direita.

Ainda na primeira linha de especiais atenções, uma novidade a ser testada são as relações do Palácio com os partidos e as bancadas no Congresso Nacional. Missão tradicionalmente atribuída aos políticos, desloca-se agora para um general. Terá que chegar armado de paciência para convencer; firmeza para desarmar pretensões descabidas e fixar estratégias de avanços e recuos. E esta é uma questão a ser resolvida rapidamente, pois já se preparam projetos para serem submetidos aos parlamentares.

Por fim, se o objetivo é definir as primeiras necessidades, cada qual na sua área, para que o governo possa fazer o máximo possível, cabe priorizar, antes e acima de tudo, o fuzilamento sumário da corrupção, a maior entre as misérias que estamos enfrentando nestes últimos tempos. Mas nesse caso trata-se de uma tarefa coletiva, sem setorizações e compartimentação. Porque os braços governamentais padecem do mal, uns menos graves que outros. Mas todos enfermos. Essa prioridade, se respeitada, tem de ser o primeiro passo para a equipe começar a trabalhar.