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A vida do presidente

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Pode se tratar de coisa muito séria, como também levar na conta de banalidades ou exercício de inconsequência, a informação, confirmada pelo núcleo familiar, de que o presidente da República eleito estaria na mira de pessoas interessadas na sua eliminação, não bastasse o atentado de que foi vítima no dia 6 de setembro, quando quase perdeu a vida. Não menos preocupante é a insinuação de que o possível atentado seria perpetrado por figura entre as mais próximas. Leviana ou não, a suspeita, simplesmente por ela, sem outros elementos de julgamento, é mais que suficiente para se colher a imediata atuação dos órgãos de segurança, com a responsabilidade de explicar se o risco existe mesmo ou se é fruto de frase solta ao vento, sem compromisso com as consequências. Por que ninguém foi preso ante tamanha gravidade? Uma balela de mau gosto?

Não se trata mais do candidato, surpreendido pelo terrorista armado com faca, porque estamos diante de alguém que dentro de algumas semanas assumirá o governo; e desde agora com a responsabilidade de gerar o processo de transição. Em rigor, um atentado contra o senhor Bolsonaro, ou a simples presunção, é parte do interesse nacional, porque essa vida não é mais apenas sua. Um perigo que esteja correndo afeta profundamente o país. Eis a razão de a segurança pessoal de um governante nunca estar reduzida a cuidados particulares.

A família assume a responsabilidade de anunciar, no Exterior, que há interessados na eliminação, dentro ou fora do Palácio. Diga-se logo que nem todos levam isso a sério, por ter sair de uma cabeça tietada com boné simpático ao americano Trump. Como também há os que tomam conclusões mais adocicadas, achando que não é bem assim. A propósito, a expressão “não é bem assim” já se tornou corriqueira nas divergências entre os porta-vozes do novo governo. Outros preferem remeter a suspeita conspiratória para o terreno da galhofa.

Seja como for, mesmo que ausente alguma seriedade no pretendido complô, é preciso que os serviços de segurança investiguem; e denunciem, se for o caso, a armação marqueteira. Pesa mais é que a sociedade merece alguma explicação, pois já se disse, mesmo que tedioso insistir, que a integridade física de um presidente não lhe pertence, por ser objeto de preocupação e afetar a vida de todos. Por isto, também não lhe compete dispensar a segurança pessoal, em nome de intenções populistas.

Até que haja uma explicação sobre esse episódio, para a tomada de medidas cautelares indispensáveis; ou se denuncie, se tudo não passar se encenação novelesca. O país fica diante de algo muito sério, principalmente quando familiares agravam o conteúdo, identificando a montagem do complô na linha das intimidades do poder. É responsável admitir, num primeiro momento, como séria uma suspeita desse tipo, pois perigoso demais seria não apostar, pelo menos, na dúvida.

O estadista tem de estar preparado para não se surpreender com o pior, de forma que não aconteça como César, que achava impossível a punhalada vir do filho adotivo. Lincoln, em 1865, desdenhou da segurança no teatro em que morreu sob a bala de um modesto 22. Índira Gandhi foi morta pelo pessoal de casa, seus agentes de segurança. O Príncipe de Sarajevo, Kennedy e o judeu Rabin, todos descuidados para morrer. Exemplos de tragédias passadas podem parecer sinistras, e realmente o são. O que não impede de confirmar que o detentor de poderes, se responsável, tem de cuidar da integridade, que, sendo pessoal, estende-se aos interesses de todo o país.

Se acabar provado o caso bolsonarista como delírio juvenil, paciência. É confiando e desconfiando que se aprende.