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Janeiro à espera das siglas

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Os partidos políticos ainda não vivem o momento ideal para definir e elaborar as linhas de conduta que terão de cumprir a partir de 2019; e esta é uma questão a ser avaliada por todos eles, independentemente da expressão das bancadas no Congresso. Como também inaltera, por hora, saber se formarão tendências de apoio ou oposição, e seu nível de lealdade aos objetivos a que se propuserem. É algo para não se definir com o tumulto de festas tradicionais, transição, balanço de atividades no ano que termina, além de repercussões e consequências de um processo eleitoral que chegou impondo tantas mudanças ao quadro político. Mas o janeiro não se fará esperar e logo cobrará das lideranças posicionamentos ante as responsabilidades irrecusáveis.

Em um primeiro passo, tratando-se dos partidos de direita e centro-direita, e estando na eficiência da bancada a esperança do governo de dispor de apoio para tramitar seus projetos, o primeiro ponto a sugerir tratamento cuidadoso está na capacidade de ceder ao ânimo do presidente de recusar permuta de interesses. Porque, ainda que se pretenda uma relação saudável entre os dois poderes, esses parlamentares, notadamente os de primeira viagem, têm compromissos com suas bases e prefeitos, e querem atenções fora dos padrões traçados pelo presidente e seus ministros. Quando enfrentam situações dessa natureza, vê-se que o ônus é muito mais pesado para deputados e senadores que estão à sombra do governo. São os mais cobrados, e nem convencem com o argumento das dificuldades.

Com toda certeza, vai ser enfrentada de novo a antiga distorção que rebaixou os parlamentares ao papel de despachantes de luxo, disponíveis para realizar tarefas em Brasília e peregrinar por gabinetes, mapeando resíduos de verbas. Sua missão maior, propor e discutir leis, é coisa que raramente sensibiliza as bases com que se elegem.

Quando chega o momento de a oposição traçar roteiros, os problemas não se revelam menores, mesmo quando se sabe que no desempenho sempre é mais cômoda a tarefa de criticar e cobrar; muito mais que apoiar e ter de justificar coisas impossíveis. No caso da oposição ao presidente Bolsonaro, as forças contrárias talvez comecem tentando demolir os 11 milhões de votos que lhe deram vitória; mas, para tanto, terão de esperar e ver se o novo governo tropeça nas expectativas que importou do palanque eleitoral. Agir em cima dos apoiadores; não os outros, porque nas unas estes já tinham preferido caminhos diferentes. Quem apoiou o presidente pode se sentir no direito de estender sua confiança por mais algum tempo.

Entre as correntes que vão se formar na oposição, e aí o Partido dos Trabalhadores é principal referência, há um detalhe que exigirá solução e talento. Fala-se da relação dessas forças com o ex-presidente Lula, porque, mantendo-o, como até agora, como sua primeira inspiração, por natural consequência continuará em cena o lulismo, bem sucedido foco do discurso bolsonarista. Julgam muitos que, insistindo nesse detalhe, os petistas poderiam favorecer o governo; sobretudo nas manifestações pela libertação do ex-presidente, por mais justa que a considerem. Mas, não sendo por aí, como arquivar Lula, esquecê-lo atrás das grades, se no PT ele foi tudo e é quem mantém hasteada a bandeira?

O que neste momento mais perturba os oposicionistas, num momento de transição não só no calendário, mas nas relações de poder, é saber qual será o tempo de duração das penas a que foi e ainda será condenado seu líder. Pode parecer que não, mas isso faz toda a diferença.