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Fusão de artificiais

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Na luta para sobreviver, depois de sofrerem o pesado revés das urnas de outubro, alguns partidos ensaiam os primeiros passos para definir seu futuro, tateando paredes na tentativa de descobrir a porta de saída. O problema desafia grandes e pequenos; mas os menores e os mais modestos, já esbarrando na cláusula que cobra desempenho mínimo, sabem que sua sobrevida fica para depois, na dependência das alianças a serem alinhavadas no Congresso, contra ou a favor do governo Bolsonaro. Mesmo assim, seria temerário admitir que algum possa ser poupado das cobranças que se formularam no rastro da eleição.

A começar pelo PSDB, levanta-se a proposta de fusão de siglas, nela reunindo outros mal-sucedidos, convicto de que a soma dos muito fracos pode resultar no denominador de uma força capaz de construir bancada expressiva de deputados e senadores; e a partir deles revigorar o exercício político. Como nos exércitos do passado, que saíam sangrando das batalhas e procuravam o acerto entre os príncipes aliados para voltar à luta. A proposta do tucanato envolve aspectos complicados, o primeiro dos quais é que o resultado, se obtido, pouco significará, além de uma estratégia meramente aritmética, porque são partidos sem identidade programática, falsamente exposta nas letrinhas com que se identificam. Pobres de conteúdo para a grande incumbência de fazer renascer a simpatia da sociedade, eles apenas reeditariam o que se viu na campanha deste ano: sacos vazios, sem poderem se manter de pé, mesmo uns encostados nos outros.

Comprovadamente repudiados pelo eleitorado, num fenômeno que praticamente se verificou em todo o território nacional, são agora convocados a uma ampla reinvenção de seu papel na política brasileira. Isto não tem como escapar das responsabilidades dos tucanos e dos demais que tentam se atrair, ou dos numerosos nanicos, preocupados, por hora, em curar os hematomas conquistados durante a campanha. A não ser que pretendam se recolher à hibernação eleitoral, mesmo assim os de modesta e pálida expressão política têm de atirar fora tudo que aprenderam, principalmente o que não aprenderam, para nascer de novo e voltar a conversar com a nação. Admitido esse propósito, saneador e renovador, a fusão de derrotados tenderia a se revelar inadequada e sem perspectiva histórica, porque os novos tempos estão reclamando das lideranças sepultar o que não deu certo.

Os partidos se fundem – e filosoficamente nada os impede – em razão de fatores que os identifiquem claramente. Da mesma forma com que se apartam, inexistindo mínimas identidades. Fora disso, é tentar construir edifício sobre areia movediça.

Nem o novato imberbe PSL, que se fez na carona do presidente eleito (e só por isso), constitui exceção. A ele impõe-se, igualmente, o dever de se reciclar para ganhar vigor, pois é sempre árduo o plantão situacionista no Congresso. No outro extremo, seria dissemelhante a expectativa em relação ao PT? Certamente que não, pois ao deixar o campo de batalha já sabia que terá nos ombros os encargos da oposição. Paralelamente, é forçoso rever algumas linhas de seu destino, começando por definir se, como antes, tudo continuará a depender da palavra final do líder. Líder, que, como qualquer preso, tem suas ações muito limitadas; e, no caso, sem que saiba o tamanho de suas penas. Eis a encruzilhada: perseverar no lulismo sem Lula ou dobrar essa página e reconhecer ter nele apenas como um símbolo?

Para acertar ou errar, unidos ou separados, com novas ou antigas lideranças, nesta quadra de inseguranças na organização partidária ninguém é prescindível, pois ainda ecoa o clamor das urnas.