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Partidos na hora da pesagem

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Pouco provável, na visão de observadores experientes, que a estrutura funcional e política das bancadas da Câmara esteja suficientemente organizada para atuar plenamente a partir de fevereiro, primeiro mês da nova legislatura. O que, se ocorrer, pode representar outro incômodo para a governabilidade, que tem sido motivo de preocupação, não por causa dos deputados, mas das tensões que devem sangrar deste segundo turno. Tal previsão quanto a uma das casas do Congresso não desmente – na verdade confirma – o que alertavam outros veteranos lidadores com as coisas legislativas, desde as primeiras horas que se seguiram aos resultados das urnas. Falavam da consequente novidade do avanço de partidos desconhecidos e, em paralelo, o enfraquecimento dos antigos e poderosos, como PSDB e MDB. Seria o bastante para prenunciar uma certa desordem nas primeiras semanas de funcionamento das bancadas.

Fatos novos, alguns com certa dose de imprevisibilidade, concorreram para justificar as incertezas que estariam guardadas para as primeiras semanas do ano. É o caso das catorze siglas modestas, condenadas por não terem passado pelo coador da cláusula de desempenho; e, se já eram fracas de origem, ainda mais raquíticas agora, quando lhes é cassado acesso aos fundos de sustentação financeira. Não se pode dizer que estejam condenadas à morte, mas têm tudo pra agonizar; até porque, a espantá-las no horizonte nublado, promete-se o fim das coligações no próximo pleito. Até agora contaram, e não mais contarão, com essa muleta, permitindo que andassem, umas escoradas nas outras. Aquelas muito fracas das pernas.

O futuro incerto dos partidos enjeitados contribui para acentuar a necessidade de competentes e imediatas articulações no Parlamento; mais oportunas ainda, diante dos sinais de que serão abandonados pelos deputados que acabaram de eleger, com malas prontas para se hospedarem em lugares mais seguros e prestigiosos. Muitos deles praticariam logo a migração salvadora, porque os sertões de onde vieram ensinam que solidariedade com defunto só até a cova; não se entra nela com ele.

Seja tudo isto certeza ou mera suposição relativa aos deputados e suas bancadas, não é fora de propósito refletir também sobre a possibilidade de essa corrida de acomodações contribuir para uma recomendada operação, indolor e por via indireta, destinada reduzir o número de partidos, objetivo há tempos tido como desejável, sem, contudo, sensibilizar as lideranças mais influentes. Vê-se o capricho do destino: o que se esperava ser obra de grandes e demorados conflitos pode acabar sendo enxugamento pacífico, fruto de ocasional acidente de percurso. Não se chegaria ao ideal, isto é, limitar-se o número de organizações partidárias suficientes para abrigar e fortalecer todas as correntes do pensamento; mas longe da atual profusão de trinta e tantas, que até poderiam sobreviver a bordo da fartura, mas sem todas as prerrogativas concedidas pelo voto popular às grandes e médias representações. Hoje, sob o modelo pouco exigente em que são criadas, parecem enlatados de ocasião, patenteados pelo TSE, como se ali não fosse um tribunal, mas espécie de laboratório bromatológico.

A liberalidade com que se deu tratamento a partidos que carregam todos os sinais de oportunismo tornou-se peça influente na proliferação dos vícios na política brasileira, graças à única razão de sua existência: ganhar e vender, na hora de eleições, seus segundos de propaganda política no rádio a na televisão.